3. Origens do Capitalismo

 


Introdução

Examinar as origens e estágios do capitalismo é um desafio essencial para compreender o mundo contemporâneo. O ponto de partida se encontra na desmontagem do feudalismo durante a Baixa Idade Média. Nessa época, ocorreu uma transformação crucial: os camponeses deixaram de ser agricultores para se tornarem trabalhadores assalariados, marcando o advento da Idade Moderna.

O mercantilismo, um sistema de acumulação de metais preciosos controlado pelos Estados Modernos, desempenhou um papel crucial nessa evolução. Ele fortaleceu o comércio e a classe social dominante, os burgueses. Isso levou a uma série de eventos que tiveram impacto no imaginário social, cultural e político, pavimentando o caminho para transformações que reconfigurariam as estruturas sociais, comerciais e de poder dos Estados Modernos com a chegada das inovações de mercado.

Essas mudanças estão entrelaçadas com uma sucessão de eventos que ocorreram ao longo desse período. Entre eles, destacam-se o avanço tecnológico acelerado, as Grandes Navegações que trouxeram o colonialismo e a abertura de novos mercados, e consequentemente, a consolidação dos Estados Nacionais, impulsionada pela acumulação de riquezas vindas do recém-explorado Novo Mundo.

Esses fatores culminaram na transformação do processo de produção, impulsionando uma nova abordagem de mercado para as matérias-primas coloniais. Isso deu início a mudanças que marcaram a transição da manufatura eficiente para a ascensão das máquinas, solidificando o conceito da linha de produção segmentada, impulsionada pela migração da mão de obra rural para os centros urbanos.

Neste capítulo, exploraremos a monetarização dos produtos durante a transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna e examinaremos os processos de conquista de novos territórios e o papel crucial do sistema mercantilista. Por fim, também investigaremos as bases do pensamento de Karl Marx e suas interpretações sobre o capitalismo.

1. Do escambo à monetarização durante a organização dos burgos

A história econômica, fundamental na compreensão das sociedades, apresenta a substituição do escambo pela monetarização, a diversificação de mercadorias, os cenários urbanos e rurais, além da evolução do processo econômico até os dias atuais. No entanto, a fragmentação excessiva na história social levou a perdas de identidade e complexidade.

No estudo da transição entre a Idade Média e Moderna, a escassez de fontes primárias, especialmente sobre história econômica, desafia os historiadores. Apesar disso, fontes como decretos, registros de viagem e tratados permitem compreender as mudanças desse período.

O período de transição presenciou a transformação do escambo para monetarização. A sociedade, ligada ao sagrado e temerosa do profano, adotou práticas comerciais para sobreviver. A crise orgânica do século XIV gerou rearranjos que marcaram o nascimento da Modernidade. A vitalidade econômica dos séculos XI-XIII levou à expansão do comércio, impulsionado por um excedente agrícola e comércio de longa distância.

O processo de revitalização das cidades no século XII deu origem aos burgos, centros de comércio que impulsionaram a monetarização e a ascensão dos burgueses. Veneza e Gênova se destacaram como polos comerciais e culturais. Nesse contexto, ocorreu a desfragmentação do feudalismo, transformando a posse da terra em acúmulo de metais preciosos e fortalecendo o sistema mercantilista que alicerçou os Estados Modernos.

2. Os processos de expansão territorial e a inserção do sistema mercantilista

Entre os séculos XV e XVI, a transição da Idade Média para a Idade Moderna testemunhou uma série de mudanças: o fortalecimento do mercantilismo, crescimento da burguesia, formação dos Estados Modernos, renascimento cultural e reformas religiosas. O período das Grandes Navegações, muitas vezes erroneamente chamado de "descobrimentos", presenciou viagens audaciosas, como a de Colombo em 1492, e a exploração do desconhecido por italianos e nórdicos.

O expansionismo marítimo foi impulsionado pela centralização política e pela aliança entre monarcas e burguesia. Portugal liderou o movimento, com avanços técnicos e interesses econômicos. A colonização trouxe consigo um pacto colonial que garantia à metrópole a extração de matérias-primas das colônias. O sistema mercantilista, embora não fosse um conjunto coeso de ideias, foi preponderante nesse contexto. Surgiu como uma forma de intervenção estatal na economia, visando ao acúmulo de metais preciosos e promovendo o fortalecimento dos Estados Nacionais, a ascensão da burguesia e os processos de expansão marítima e colonização.

3. As bases do pensamento de Karl Marx e sua definição de capitalismo

Karl Marx, influenciado por filósofos como Hegel e Feuerbach, desenvolveu uma análise profunda do capitalismo e das transformações sociais resultantes desse sistema. Sua abordagem histórica considera a evolução das sociedades por meio de estágios caracterizados por estruturas de produção, além de uma "superestrutura" política e cultural. A influência de Hegel levou Marx a enxergar a sociedade como um todo de relações dinâmicas e a ver o progresso como fruto do conflito de forças opostas.

Marx, nascido em 1818 na Alemanha, estudou na Universidade de Bona e em Berlim, onde mergulhou na filosofia de Epicuro. Seu pensamento, embora influenciado por Hegel, diverge em oposição ao idealismo hegeliano. Marx enfatiza que a dinâmica social é moldada pelas reais condições de vida dos indivíduos e pelas relações de produção, não apenas por ideias.

O sistema capitalista, segundo Marx, enfrenta contradições entre as "forças de produção" e as "relações de produção", levando a crises que podem resultar em transformações. A produção crescente confronta a demanda insuficiente dos assalariados, levando a quedas nos lucros e crises mais amplas.

Além de Hegel, Feuerbach também influenciou Marx, especialmente em sua visão da religião como projeção humana. Marx considera a religião um obstáculo à realização do potencial humano pleno e propõe que a mudança na condição material do homem é crucial para sua libertação. Ele associa conflitos de classe à história da humanidade, identificando a estrutura real do capitalismo na exploração e opressão. Através dessas concepções, Marx analisa a apropriação do capital, a produção, a venda da força de trabalho e os modos de produção.

Conclusão

A transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna marcou um período de mudanças profundas e interconectadas que redefiniram as estruturas econômicas, políticas e culturais da sociedade. A evolução do capitalismo foi impulsionada por uma série de fatores complexos, como a monetarização do comércio nos burgos, o papel crucial do sistema mercantilista na expansão territorial e a ascensão dos Estados Modernos, e as análises profundas de pensadores como Karl Marx.

A monetarização do comércio e a formação dos burgos representaram uma transformação fundamental, impulsionando a transição da economia feudal para uma baseada no mercado. Esse processo, apoiado pela ascensão dos burgueses, que acumulavam riqueza em metais preciosos, abriu caminho para a ascensão do mercantilismo e a consolidação dos Estados Modernos.

O expansionismo marítimo durante as Grandes Navegações trouxe uma nova dimensão ao sistema mercantilista, levando à colonização de novos territórios e ao estabelecimento de pactos coloniais que fortaleceram as economias metropolitanas. O sistema mercantilista, embora não fosse uniforme em suas ideias, desempenhou um papel fundamental na promoção da acumulação de riquezas e no crescimento dos Estados Nacionais.

A influência de Karl Marx na compreensão do capitalismo trouxe uma análise crítica das estruturas sociais e econômicas resultantes desse sistema. Inspirado por Hegel e Feuerbach, Marx enfocou as relações de produção, contradições entre forças produtivas e relações de produção, e as lutas de classe como motores da transformação histórica. Sua visão do capitalismo como um sistema de exploração e opressão ofereceu uma perspectiva alternativa à narrativa dominante.

Em síntese, a transição da Baixa Idade Média para a Idade Moderna foi um período complexo de mudanças que moldaram o mundo contemporâneo. A monetarização, o surgimento do mercantilismo e a influência do pensamento de Marx são apenas alguns dos aspectos que contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo e a transformação das estruturas sociais, políticas e econômicas que moldam nossa realidade atual.

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