4. A formação dos Estados Modernos e o Antigo Regime

 

Introdução

O Antigo Regime refere-se a um período na Europa Ocidental durante a Idade Moderna, caracterizado pelo Estado absolutista, a economia mercantilista e a sociedade com raízes feudais. Neste capítulo, exploraremos a conexão entre a formação dos Estados Modernos e o comércio mercantil, examinando os fatores culturais que impulsionaram a expansão comercial e as políticas mercantilistas do Estado, bem como as principais características da sociedade do Antigo Regime.

1. A formação dos Estados Modernos e o mercantilismo.

A formação dos Estados Modernos, as grandes navegações e o mercantilismo estão interligados na Europa durante os séculos XV, XVI e XVII. A economia enfrentava desafios devido à escassez de alimentos, falta de mão de obra e a Peste Negra. O comércio de produtos orientais era monopolizado por cidades italianas como Veneza e Gênova. Após a tomada de Constantinopla em 1453 pelos turcos otomanos, os reis europeus buscaram novas rotas comerciais.

A centralização do poder, o absolutismo e a formação dos Estados Modernos são processos distintos, mas relacionados. A centralização do poder começou no século XII, o absolutismo se consolidou nos séculos XVI e XVII, e a ideia de nação se firmou apenas no século XIX.

Portugal foi pioneiro nas grandes navegações, estabelecendo rotas comerciais e colonizando territórios na América e na África. A política mercantilista, que buscava acumular metais preciosos e manter uma balança comercial favorável, foi uma resposta a essa expansão. No entanto, o mercantilismo não era um conjunto coeso de ideias, mas sim uma série de práticas econômicas adotadas pelos Estados absolutistas europeus.

A sociedade do Antigo Regime na Europa era estamental, baseada nas estruturas feudais, mas com a ascensão da burguesia como fator de diferenciação social. Esses elementos marcaram a continuidade das estruturas feudais na Idade Moderna.

2. Fatores culturais da formação do Estado Moderno e do sistema mercantilista.

Os fatores culturais desempenharam um papel significativo na formação do Estado Moderno e no desenvolvimento do sistema mercantilista na Europa. Isso vai além da cultura como expressão artística e intelectual, abrangendo as mudanças na vida pública e privada, na concepção do indivíduo e da coletividade, e na forma como as pessoas se relacionam e compreendem o mundo.

A expansão comercial mercantilista, impulsionada por indivíduos e facilitada pelo Estado, não apenas enriqueceu a burguesia e introduziu novos produtos, mas também expôs grandes setores da sociedade europeia a costumes, hábitos e práticas de outros povos. Essas mudanças afetaram não apenas a economia, mas também a cultura, incluindo alimentação, habitação, vestuário e até mesmo as relações de trabalho.

Norbert Elias, um sociólogo polonês, argumenta que a formação do Estado Moderno teve influências diretas na cultura e na moral das pessoas. À medida que o Estado centralizava o poder e controlava a administração e a tributação, isso resultava em uma maior dependência das classes superiores e em uma crescente interdependência entre as pessoas. Esse processo também levava a um aumento da pressão social sobre os indivíduos para exercerem o autocontrole em várias áreas, incluindo a sexualidade, a agressão e as emoções, além de promover o desenvolvimento da consciência como reguladora do comportamento.

As transformações nos costumes e na moral estavam intimamente ligadas à dinâmica das classes sociais. À medida que a classe superior buscava distanciar-se das outras classes sociais, novos padrões de comportamento eram criados e, ao longo do tempo, adotados por outras classes. Esses padrões eram internalizados pelos indivíduos e, com o tempo, tornavam-se naturais, influenciando a personalidade das pessoas e reduzindo a necessidade de regulamentação estatal nos costumes.

Além disso, as mudanças culturais não se limitaram ao âmbito privado, mas também tiveram impacto na esfera pública, levando ao desenvolvimento de novos saberes, como a cartografia e a geografia, para atender às necessidades da expansão europeia pelo mundo. Houve também uma mudança na forma de registrar informações, com os navegadores mantendo "diários de bordo" para orientação.

Em suma, a formação dos Estados Modernos na Europa influenciou profundamente a cultura e a sociedade, promovendo a secularização, o racionalismo, o individualismo burguês e a transição de um universo ideológico medieval para um universo ideológico moderno e secular.

3. O Antigo Regime.

O termo "Antigo Regime" é amplamente usado na historiografia para se referir à organização econômica, política e social da Europa ao final da Idade Média, consolidando-se no século XVII. Alexis de Tocqueville, após a Revolução Francesa, deu a esse termo o status de um conceito, denotando a época que precedeu a Revolução, enfatizando que a ruptura ocorreu nas "consciências" e não na realidade.

Durante o Antigo Regime, a sociedade era organizada em estamentos ou ordens, com base no privilégio de nascimento, e não na riqueza. Isso implicava que a posição social era determinada pelo nascimento, e os direitos e deveres estavam vinculados a esses estamentos. O Primeiro e o Segundo Estado, composto pelo alto clero e pela nobreza, desfrutavam de privilégios, enquanto o Terceiro Estado, que englobava a maior parte da população, era mais explorado em termos de impostos e tributos.

A relação entre a nobreza e a burguesia no Antigo Regime foi debatida por diferentes teóricos. Alguns, como Christopher Hill, afirmaram que a nobreza comandava a monarquia absoluta, enquanto outros, como Perry Anderson, acreditavam que a monarquia protegia a nobreza. Norbert Elias argumentou que a burguesia almejava títulos aristocráticos e a proximidade com a nobreza em vez de eliminar a nobreza.

Em resumo, o Antigo Regime preservou a ordem social feudal, com o rei e a nobreza detendo privilégios e poder. A sociedade estamental desempenhou um papel importante na emergência da ideia de indivíduo, permitindo que as pessoas comprassem títulos de nobreza, mas sem desarticular a sociedade corporativa. Essa época tinha uma visão de mundo aristocrática e corporativa, marcada por continuidades e rupturas em relação ao período medieval.

Conclusão.

Em conclusão, o período do Antigo Regime na Europa Ocidental durante a Idade Moderna foi uma época marcada por profundas transformações políticas, econômicas, sociais e culturais. A formação dos Estados Modernos, o surgimento do mercantilismo e as mudanças culturais desempenharam papéis interconectados nesse processo histórico.

A formação dos Estados Modernos envolveu a centralização do poder e o estabelecimento do absolutismo, com a consolidação da ideia de nação ainda por vir. Isso coincidiu com a expansão das grandes navegações, lideradas por Portugal, que buscava novas rotas comerciais e a colonização de territórios na América e na África. O mercantilismo, uma resposta a essa expansão, enfatizava a acumulação de metais preciosos e uma balança comercial favorável.

Além disso, os fatores culturais desempenharam um papel crucial na formação do Estado Moderno e no sistema mercantilista. As mudanças culturais não se limitaram à expressão artística e intelectual, mas também afetaram a vida pública e privada, as concepções de indivíduo e coletividade e as relações sociais. Norbert Elias destacou como o desenvolvimento do Estado Moderno influenciou as normas de comportamento, levando a um maior autocontrole das emoções e condutas.

Por outro lado, o Antigo Regime representou uma sociedade estamental, onde a posição social era determinada pelo nascimento e os privilégios de classe eram mantidos. A relação entre a nobreza e a burguesia era complexa, com a burguesia buscando títulos aristocráticos e proximidade com a nobreza em vez de eliminar essa classe.

Em resumo, o Antigo Regime foi uma época de transição e continuidade, onde as estruturas feudais persistiram, mas foram influenciadas pelas transformações políticas e econômicas da Idade Moderna. A compreensão desses períodos históricos nos ajuda a apreciar a complexidade das mudanças que moldaram a Europa e o mundo ocidental.

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