12. A mentalidade medieval

 Introdução.

Entender a Idade Média através da produção histórica brasileira é um desafio complexo. A mentalidade medieval é difícil de abordar em um breve capítulo, mas a importância desse período para os pesquisadores é inegável. Os campos de estudo relacionados à Idade Média estão centrados em aspectos como imaginário social, mentalidades, memória coletiva, religiosidade e poder.

As barreiras geográficas e linguísticas, juntamente com a abundância de fontes dispersas globalmente, tornam as investigações aprofundadas complicadas. No entanto, a tecnologia atual nos encoraja a explorar novas abordagens.

Neste capítulo, exploraremos como o conceito de "hierofania", cunhado por Mircea Eliade, um estudioso de religiões, se aplica a esse período histórico.

Além disso, examinaremos como a religiosidade desse período influenciou as expressões artísticas e literárias, enriquecendo nossa compreensão da cultura da época.

Reconheceremos também a relevância da filosofia medieval.

1. A visão hierofânica do mundo medieval.

A mentalidade medieval foi moldada por diversas tradições culturais, incluindo elementos greco-romanos, germânicos e judaico-cristãos. A história das mentalidades, representada por historiadores como Aries, Mandrou, Duby e Le Goff, fornece insights para compreender as visões de mundo dessa época.

A compreensão da mentalidade medieval é desafiadora devido à escassez de registros escritos da época, especialmente entre aqueles que não sabiam ler ou escrever.

Para entender essa mentalidade, é necessário investigar as instituições detentoras de conhecimento da época e comparar suas ações com a produção historiográfica atual.

Na sociedade medieval, a referência lógica estava centrada no sagrado, ou seja, em Deus. Esse fenômeno é considerado psicossocial no contexto das ciências humanas, independentemente da era em questão.

A sociedade medieval tinha uma base essencialmente agrária, dependendo da relação com a natureza, e era descentralizada, sem referências estatais além da doutrina cristã. Isso levou à arraigada presença do sobrenatural no imaginário social.

2. A igreja e o sagrado.

Na sociedade medieval, a morte era uma presença constante desde a infância devido às expectativas de vida pessimistas.

A fé em Cristo, no sagrado e na vida após a morte no paraíso cristão, promovida pela Igreja Católica, oferecia esperança diante dessa realidade.

O termo "sagrado" não deve ser entendido como oposto ao profano, mas como algo "diante do templo" (pro fanum), não implicando em conceitos opostos, mas complementares. A visão hierofânica, enfoca a manifestação do sagrado, como algo absoluto, diferente do profano.

A sociedade medieval abraçou crenças supersticiosas promovidas pela Igreja Católica, enxergando eventos naturais como expressões da vontade divina. As escrituras sagradas foram essenciais para estabelecer uma relação com o divino, e a Igreja usou os sacramentos como meio de apoio hierofânico, fortalecendo a conexão entre o sagrado e o profano.

A arte medieval desempenhou um papel importante na manifestação do sagrado. A arquitetura medieval, como as catedrais e igrejas, se tornou uma representação física da doutrina cristã, incorporando símbolos e ensinamentos nas construções. O corpo foi substituído pelo espírito na arte, refletindo a conexão com o divino. Diferentes estilos artísticos, como o bizantino, românico e gótico, foram usados para transmitir a essência religiosa.

A relação entre a visão hierofânica e os sacramentos cristãos foi uma estratégia da Igreja para manter a sociedade medieval em um universo sagrado. Os sacramentos eram elos entre os fiéis e o sagrado, e sua disseminação fortaleceu a ligação entre a fé cristã e a vida cotidiana.

Em resumo, a sociedade medieval encontrava no sagrado e na fé religiosa uma forma de enfrentar a dura realidade da vida e da morte. A Igreja Católica desempenhou um papel central ao promover a visão hierofânica, por meio dos sacramentos e da arte, enraizando o sagrado no imaginário social.

3. A literatura medieval.

Na Idade Média, a literatura teve um papel crucial na promoção da fé cristã, sendo utilizada como ferramenta pedagógica pela Igreja Católica. Os autores desse período, muitos deles ligados à hierarquia eclesiástica, escreviam obras com inspiração religiosa e filosófica. A literatura medieval era consumida principalmente pelo clero e pela nobreza.

Tanto na literatura em latim quanto na vernácula, havia uma variedade de gêneros, incluindo elementos folclóricos e temas religiosos. A Igreja incentivou a produção literária que explorava o imaginário cultural e sagrado da época, narrando passagens bíblicas, vidas de santos e reforçando a fé em Deus e na vida eterna.

Na relação entre fé e razão, os filósofos medievais buscaram equilibrar esses dois aspectos. Agostinho de Hipona defendeu a harmonização entre a fé e a razão, resgatando elementos da filosofia platônica. Anselmo de Cantuária explorou o argumento ontológico para a existência de Deus, enquanto Tomás de Aquino expandiu o projeto da Igreja por meio da Escolástica, buscando conciliar a teologia com a filosofia.

A Igreja Católica desafiou a ideia de "idade das trevas", mostrando que houve renascimentos ao longo da Idade Média. Através de alianças e influências, a Igreja expandiu sua influência cultural e política, possuindo uma riqueza significativa. Ela também atendeu aos anseios por conhecimento da população medieval, unindo fé, razão e cultura, promovendo uma universalização sem precedentes.

Conclusão.

Em suma, a compreensão da Idade Média através da produção histórica brasileira se revela como um desafio intrincado. A complexa mentalidade medieval, abordada de forma concisa neste capítulo, não diminui a inegável importância desse período para a comunidade de pesquisadores. Os campos de estudo relacionados à Idade Média, centrados em elementos como imaginário social, mentalidades, memória coletiva, religiosidade e poder, oferecem um olhar fascinante sobre um passado distante.

As barreiras geográficas e linguísticas, assim como a dispersão de fontes ao redor do globo, amplificam a complexidade das investigações minuciosas. Entretanto, a era contemporânea, com sua tecnologia avançada, estimula abordagens inovadoras. 

Adicionalmente, a análise do impacto da religiosidade na arte e na literatura medieval aprofundou nossa compreensão da rica cultura da época. A interseção entre o sagrado e o profano, discutida sob a perspectiva hierofânica, revelou a influência da Igreja Católica na vida cotidiana da sociedade medieval. Os sacramentos e a arte não apenas ancoravam a conexão entre o divino e o terreno, mas também sustentavam a esperança diante das realidades cruas da vida e da morte.

A literatura, por sua vez, emergiu como uma ferramenta pedagógica vital promovida pela Igreja Católica para disseminar a fé cristã. Escrita por autores frequentemente associados à hierarquia eclesiástica, a literatura medieval incorporava elementos folclóricos, temas religiosos e filosóficos. A busca por equilibrar fé e razão por meio de pensadores como Agostinho de Hipona, Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino ilustra a complexidade intelectual do período.

A Igreja Católica, longe de ser uma instituição retratada nas "trevas", desafiou tal estigma ao evidenciar os renascimentos culturais que pontuaram a Idade Média. Através de influências e alianças, a Igreja não apenas expandiu sua presença cultural e política, mas também tornou o conhecimento acessível à população medieval, fundindo fé, razão e cultura em uma síntese impressionante.

Em última análise, a abordagem holística apresentada neste capítulo nos conduz a uma compreensão mais profunda da sociedade medieval e de como suas crenças, arte e literatura desempenharam um papel vital na construção do tecido cultural e religioso desse período.

Plano de aula: A mentalidade medieval.

Objetivo: Compreender a mentalidade medieval, seus elementos culturais, religiosos e filosóficos, explorando a influência da religiosidade, arte e literatura na construção dessa mentalidade e na sociedade da Idade Média.

Duração: 2 aulas (90 minutos cada)

Público-alvo: Estudantes do ensino médio

Recursos: Projetor, quadro branco ou flip chart, cópias do texto de referência para os alunos.

Aula 1: Introdução à Mentalidade Medieval

Introdução (15 minutos)

Contextualize a importância da Idade Média e sua complexidade.

Apresente os tópicos que serão abordados na aula: mentalidade medieval, elementos culturais, religiosos e filosóficos.

Atividade Interativa: Explorando a Mentalidade Medieval (20 minutos)

Divida os alunos em grupos.

Distribua cópias do texto de referência para cada grupo.

Peça que cada grupo destaque os principais aspectos da mentalidade medieval discutidos no texto.

Cada grupo apresentará seus destaques para a classe.

Discussão em Sala (15 minutos)

Conduza uma discussão sobre os destaques apresentados pelos grupos.

Incentive os alunos a fazerem perguntas e a expressarem suas impressões sobre a mentalidade medieval.

Conceito de Hierofania e a Mentalidade Medieval (20 minutos)

Explique o conceito de "hierofania" cunhado por Mircea Eliade e sua aplicação à mentalidade medieval.

Mostre como a visão hierofânica influenciou a relação com o sagrado na sociedade da época.

Atividade Individual: Reflexão sobre a Hierofania (10 minutos)

Peça aos alunos para escreverem brevemente suas reflexões sobre como a visão hierofânica pode ter moldado a mentalidade medieval.

Aula 2: Religiosidade, Arte e Literatura na Mentalidade Medieval

Recapitulação (10 minutos)

Faça uma breve revisão dos conceitos discutidos na aula anterior.

A Influência da Igreja e do Sagrado na Sociedade Medieval (20 minutos)

Explore como a Igreja Católica desempenhou um papel central na mentalidade medieval.

Discuta como a fé, a relação com o sagrado e a vida após a morte influenciaram a sociedade da época.

Atividade de Grupo: Arte e Religiosidade (25 minutos)

Divida os alunos em grupos.

Atribua a cada grupo um estilo artístico medieval (bizantino, românico ou gótico).

Peça que os grupos pesquisem e apresentem como esse estilo incorporava elementos religiosos e sagrados em sua arte.

Literatura e Filosofia na Mentalidade Medieval (20 minutos)

Explique como a literatura medieval foi usada como ferramenta pedagógica pela Igreja.

Introduza alguns filósofos medievais (Agostinho de Hipona, Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino) e sua busca por equilibrar fé e razão.

Discussão e Reflexão (15 minutos)

Conduza uma discussão sobre a influência da religião, arte e literatura na mentalidade medieval.

Incentive os alunos a refletirem sobre como esses elementos moldaram a sociedade e a visão de mundo da época.

Conclusão e Relevância da Mentalidade Medieval (10 minutos)

Apresente uma breve conclusão sobre a importância de compreender a mentalidade medieval para entender a sociedade da Idade Média e suas contribuições para a cultura atual.

Atividade de Casa:

Peça aos alunos que escrevam um breve ensaio refletindo sobre como a mentalidade medieval influenciou diferentes aspectos da sociedade da época, incluindo religião, arte, literatura e filosofia, e como essas influências podem ser percebidas nos dias de hoje.

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