14. Bizâncio e o Ocidente

Introdução

Nos últimos anos, a historiografia medieval tem dedicado significativa atenção à complexa interação entre os dois coexistentes mundos da Idade Média. Até recentemente, o Império Bizantino era frequentemente relegado a um papel secundário na construção do conhecimento acerca desse período. No entanto, emergiram novas perspectivas analíticas que têm desafiado essa visão.

Consequentemente, os cursos abrangendo história e história da arte têm lançado uma nova luz sobre essa era, rompendo de vez com as concepções arraigadas durante o Renascimento, que por séculos rotularam injustamente o mundo medieval.

Nesse contexto, é crucial empreender uma reavaliação crítica da produção do conhecimento histórico relacionado à Idade Média. Isso envolve uma reexaminação minuciosa das narrativas que ganharam destaque no campo historiográfico. A tarefa do historiador inclui a reinterpretar tanto fontes primárias quanto secundárias, com o intuito de conferir ao passado novos significados e, a partir desse processo, extrair insights para novas problematizações e ponderações.

Este capítulo se propõe a explorar a evolução da Idade Média, notoriamente subdividida em Alta e Baixa Idades Médias. A partir dessa base, o objetivo é compreender tanto o papel desempenhado pela Igreja Católica quanto a configuração do sistema econômico no contexto ocidental. Simultaneamente, é imperativo considerar o comércio característico do Império Bizantino, a fim de discernir os fatores subjacentes à sua prosperidade duradoura. Por último, examinaremos o impacto do movimento iconoclasta na enfraquecimento do Império do Oriente, estabelecendo uma correlação entre a queda desse império e o ascenso do Império Turco-Otomano. Esse processo culmina com a emblemática captura de Constantinopla, marcando a transição da Idade Média para a Idade Moderna.

1. Sistemas econômicos medievais: o Império Bizantino e o modelo medieval europeu

A história econômica da Idade Média contrasta com os períodos moderno e contemporâneo, dada a ausência de fontes numéricas. A pesquisa histórica desse período, se baseia em análises qualitativas que consideram padrões sociais da época. Um consenso surge quanto à escassez endêmica nos séculos IV-X, resultando de baixa produtividade agrícola, comércio limitado e demografia enfraquecida. O retrocesso demográfico afetou a produção ao impactar a disponibilidade de mão de obra, gerando pobreza.

A Igreja na metade do século V categorizou profissões e ofícios, definindo a sociedade em estamentos. Latifundiários expandiram suas terras, formando guardas e garantindo subsistência. A população livre buscou proteção, tornando-se dependentes dos latifundiários. A ruralização moldou a sociedade, aumentando a fome e a dependência da mão de obra dos proprietários.

A produção rural foi vital, e as pesquisas mais recentes revelaram os latifúndios característicos na Europa ocidental. O modelo econômico bizantino, centralizado e monetário, apresenta semelhanças na administração de propriedades com o ocidente. O Império Bizantino aplicava medidas protecionistas e fiscalistas, controlando a economia e a “iniciativa privada.”

Apesar de diferenças, latifúndios e influência da Igreja moldaram ambos os modelos. O Império Bizantino manteve sua influência comercial por séculos, mas sua hegemonia econômica declinou devido a invasões. A transformação econômica ocidental e oriental envolveu práticas distintas, com destaque para o controle eclesiástico e latifundiário, culminando na transição para a Modernidade.

2. O enfraquecimento do Império Bizantino

O movimento iconoclasta, um movimento político e religioso, emergiu no Império Bizantino entre os séculos VIII e IX, marcando um conflito sobre a veneração de ícones na Igreja. Defensores iconoclastas, como o imperador Leão III, consideravam a idolatria a adoração de imagens religiosas, levando à destruição dessas imagens e à perseguição dos defensores dos ícones. Isso causou tensões com o Papado e gerou controvérsias teológicas. A reação iconofílica, por outro lado, via as imagens como formas de respeito e homenagem aos santos.

O imperador Leão III baseou suas convicções na Bíblia, buscando eliminar o uso de imagens religiosas. O embate teológico resultou na condenação do uso de imagens em templos bizantinos. Somente com a imperatriz Irene, por volta de 787, o II Concílio de Niceia reafirmou o uso de ícones. No entanto, a disputa ressurgiu em 814 sob Leão V, apenas sendo resolvida definitivamente em 843 por Teodora.

O movimento iconoclasta afetou diversos aspectos do Império Bizantino. Economicamente, a produção de arte sacra era um comércio lucrativo que ajudava a financiar as defesas do império. O declínio desse comércio fragilizou a capacidade defensiva e a coesão interna, enfraquecendo gradualmente o império. A compreensão atual reconhece os riscos que os imperadores bizantinos não perceberam na época.

A polarização entre iconoclastia e iconofilia, ou seja, a rejeição e a defesa de imagens religiosas, evidenciou as tensões religiosas e políticas do período bizantino.

3. A queda do Império Bizantino e a ascensão do Império Turco-Otomano

A queda do Império Bizantino e a ascensão A longevidade do Império Bizantino é atribuída a sua localização, sistema de poder teocrático e cesaropapista, porém, ao longo do tempo, diversas razões afastaram o Império Bizantino do Ocidente. Eventos como a tentativa de aproximação durante o governo de Justiniano, os desafios financeiros após sua morte e ataques árabes e búlgaros, junto com as querelas religiosas, enfraqueceram a ligação entre Oriente e Ocidente.

A estrutura defensiva dos "temas", unidades administrativas onde camponeses defendiam pequenos latifúndios com forças militares bem equipadas, sustentou o Império. No entanto, o cisma entre as Igrejas de Roma e Constantinopla em 1054 e a Quarta Cruzada de 1204, liderada por mercadores venezianos, aumentaram o distanciamento entre Oriente e Ocidente.

Após décadas de desentendimentos e ataques, Constantinopla sucumbiu aos turcos otomanos em 1453. Os otomanos, liderados por líderes como Otman I e Maomé II, adotaram uma estratégia agressiva de expansão territorial, explorando divisões cristãs. A adaptação do canhão chinês por Mehmed II foi fundamental para a queda de Constantinopla e o estabelecimento do Império Turco-Otomano

A queda do Império Bizantino e a ascensão dos otomanos marcaram o fim de uma era e o início de uma nova potência mundial.do Império Turco-Otomano.

Conclusão

Nos últimos anos, a historiografia medieval tem direcionado sua atenção para a interação complexa entre os dois mundos coexistentes da Idade Média. O Império Bizantino, outrora relegado a um papel secundário nesse contexto, tem ganhado relevância através de novas perspectivas analíticas que desafiam visões antiquadas.

Nesse sentido, os cursos de história e história da arte têm lançado uma nova luz sobre essa era, rompendo com concepções arraigadas durante o Renascimento, que por muito tempo limitaram injustamente a compreensão do mundo medieval.

Neste cenário, torna-se essencial uma reavaliação crítica da construção do conhecimento histórico ligado à Idade Média. Isso envolve uma revisão minuciosa das narrativas que ganharam destaque na historiografia, reexaminando tanto as fontes primárias quanto as secundárias. O objetivo do historiador é conferir novos significados ao passado, extrair insights para novas problematizações e ponderações.

Este capítulo explorou a evolução da Idade Média, analisando a influência da Igreja Católica e do sistema econômico no contexto ocidental. Paralelamente, considerou o papel do comércio no Império Bizantino, buscando compreender os fatores por trás de sua duradoura prosperidade. Também examinou o impacto do movimento iconoclasta no enfraquecimento do Império do Oriente e sua correlação com o ascenso do Império Turco-Otomano, culminando na emblemática captura de Constantinopla.

A análise das dinâmicas econômicas medievais revelou semelhanças entre os modelos econômicos bizantino e europeu, ambos influenciados pela Igreja e pelo sistema de latifúndios. A ascensão do movimento iconoclasta no Império Bizantino trouxe tensões religiosas e políticas, afetando sua coesão interna e enfraquecendo-o gradualmente. A queda do Império Bizantino abriu caminho para o ascenso dos otomanos, marcando a transição da Idade Média para a Idade Moderna.

Dessa forma, a complexa história da Idade Média, com suas interações políticas, religiosas e econômicas, revela um período de mudanças profundas, que contribuiu para moldar o mundo que conhecemos hoje.

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