História do Brasil Império - 16 A queda da monarquia e a instituição da república

 

Introdução

Nas últimas décadas da monarquia brasileira, a economia continuou sendo agrário-exportadora, com o café se tornando o principal produto de exportação. Inicialmente, o Vale do Paraíba fluminense se beneficiou do plantio, mas a expansão, especialmente em São Paulo, modificou a estrutura política com a dominação dos latifúndios no Oeste Paulista.

O processo de abolição da escravidão não começou em 13 de maio de 1888, mas foi um desenvolvimento de ideias emancipatórias ao longo do século XIX. A resistência dos negros escravizados contra sua condição remonta ao período colonial. Durante o Segundo Reinado, sob o governo de Dom Pedro II (1825–1891), políticas para o fim da escravidão foram iniciadas, sempre considerando a economia como um foco central. Essa conjuntura de eventos levou à crise que culminou na queda da monarquia e na Proclamação da República em 1889.

Neste capítulo, será explorado o cenário final do Segundo Reinado, destacando as leis abolicionistas, o crescimento da elite cafeeira, a Guerra do Paraguai (1865–1870) e o surgimento dos movimentos republicanos, que desempenharam papéis cruciais na transição para a República.

1 Situação política, econômica e os pilares da monarquia às vésperas da abolição

A crise do Segundo Reinado no Brasil teve sua origem na Guerra do Paraguai (1865–1870), também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança. O conflito envolveu o Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, resultando em enormes custos humanos e financeiros para todos os países envolvidos. A guerra enfraqueceu o Segundo Reinado de várias maneiras, prejudicando a economia e a política do Brasil.

O Brasil tinha uma vantagem naval, mas o Exército paraguaio, liderado por Solano López, surpreendeu a Tríplice Aliança com sua organização militar. As forças brasileiras constituíam a maioria, mobilizando entre 135 mil e 200 mil soldados, enquanto o Paraguai tinha aproximadamente 64 mil homens e uma reserva de veteranos.

A guerra foi particularmente prejudicial para o Brasil, que enfrentou desafios financeiros significativos devido aos altos custos do conflito. A situação mudou em 1868, quando o Duque de Caxias assumiu o comando militar e, posteriormente, invadiu a capital paraguaia, Assunção. A guerra terminou com a morte de Solano López em 1870, mas deixou uma marca indelével na história brasileira.

Além disso, o crescimento do café como principal produto de exportação transformou a economia do Brasil. As plantações de café se expandiram para o Oeste Paulista, onde a terra era fértil, levando a um aumento na produção e na exportação. Esse crescimento econômico impulsionou a industrialização do país, especialmente após a assinatura da Tarifa Alves Branco em 1844, que aumentou as taxas sobre produtos importados. O setor industrial começou a se desenvolver, especialmente nas áreas têxtil e alimentícia, criando uma nova elite econômica que buscava maior representatividade política. No entanto, o cenário industrial só se consolidaria durante a Primeira República (1889–1930).

2 Condições que ocasionaram a assinatura da Lei Áurea e seu impacto na política monárquica

A assinatura da Lei Áurea em 1888 foi marcada pelo movimento abolicionista e pelas leis abolicionistas, que gradualmente eliminaram o sistema escravagista no Brasil. O movimento abolicionista ganhou força com nomes como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Luiz Gama, que lutaram pela abolição da escravidão. A escravidão já enfrentava resistência dos próprios escravizados, que se rebelavam em quilombos e revoltas como a Conjuração Baiana e a Revolta dos Malês.

As leis abolicionistas desempenharam um papel crucial nesse processo. A Lei do Ventre Livre, em 1871, estabeleceu que os escravos nascidos após 28 de setembro de 1871 seriam livres, mas poderiam ser mantidos como escravos até os 21 anos, compensando os proprietários. A Lei dos Sexagenários, em 1885, libertava escravizados com mais de 60 anos. No entanto, essas leis favoreciam os escravagistas, pois estes eram indenizados pelo governo.

O movimento abolicionista cresceu também devido a pressões internacionais e à visão de que a manutenção do sistema escravista atrasava o desenvolvimento do Brasil. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, abolindo oficialmente a escravidão no Brasil. Isso marcou o fim de um dos principais símbolos do Império brasileiro, que já estava enfraquecido.

3 Clima político e social que culminou na Proclamação da República

No final do século XIX, o Brasil enfrentou uma crise política e social que levou à Proclamação da República. O Exército, anteriormente desconsiderado, ganhou importância após a Guerra do Paraguai, reestruturando-se e estabelecendo laços com os republicanos. Nomes como Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto assumiram posições influentes, reprimindo opositores ao regime monárquico.

O movimento republicano, iniciado em 1870 com o "Manifesto Republicano Brasileiro", ganhou força, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Os republicanos buscavam uma reorganização governamental, enquanto enfrentavam contradições, especialmente em relação à questão escravista. A aliança entre os movimentos abolicionista e republicano era forte no Rio de Janeiro, mas em São Paulo e outras regiões, a preocupação era principalmente política e econômica.

Enquanto isso, Dom Pedro II viajava pela Europa, deixando o Brasil em uma crise institucional. A relação com a Igreja Católica também se deteriorou. O país enfrentava manifestações e a saúde do imperador piorava, enfraquecendo a monarquia. Uma tentativa de reforma interna liderada pelo Visconde de Ouro Preto falhou, levando ao golpe republicano em 15 de novembro de 1889, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. As Forças Armadas tomaram o Ministério do Quartel-General e estabeleceram o Governo Provisório, marcando o início do período republicano no Brasil. A Família Real retornou a Portugal, e o Brasil enfrentou a questão de que tipo de governo e organização política adotar.

Conclusão

O final do século XIX marcou uma fase decisiva na história do Brasil, caracterizada por transformações políticas, sociais e econômicas profundas que culminaram na transição da monarquia para a república. O país, outrora um império, viu-se imerso em desafios significativos, incluindo a devastação causada pela Guerra do Paraguai, a pressão crescente de movimentos abolicionistas e republicanos e a crise financeira resultante do alto custo do conflito. Essas circunstâncias desencadearam um processo complexo e multifacetado que levou à queda da monarquia e à Proclamação da República em 15 de novembro de 1889.

A economia agrário-exportadora, centrada no café, enfrentou desafios e oportunidades durante esse período. O crescimento do setor cafeeiro, especialmente no Oeste Paulista, impulsionou o desenvolvimento econômico e industrial do Brasil, mas também exacerbou as desigualdades sociais e a dependência do país em relação a um único produto. Paralelamente, as ideias abolicionistas ganharam terreno, refletindo uma crescente consciência sobre a injustiça do sistema escravista.

O movimento republicano, embora fragmentado em seus objetivos, uniu-se em seu desejo de mudança política e social. Liderados por figuras como Deodoro da Fonseca, os republicanos encontraram aliados nos setores militares e civis, fortalecendo sua causa. A insatisfação popular com o regime monárquico também cresceu, alimentada por questões sociais, políticas e econômicas, além da perda de confiança na capacidade da monarquia de liderar o país para um futuro melhor.

A Proclamação da República em 1889 marcou o início de uma nova era para o Brasil, inaugurando um período de experimentação política e social. No entanto, as mudanças não vieram sem desafios. A transição para a república trouxe consigo a necessidade de construir instituições políticas estáveis e resolver questões sociais prementes, incluindo a integração dos ex-escravizados à sociedade e a redefinição do papel da Igreja Católica no novo cenário político.

Em última análise, a transição para a república representou não apenas uma mudança de regime, mas também uma busca por uma identidade nacional e um sistema político que melhor refletisse as aspirações e valores do povo brasileiro. Esse período tumultuado, marcado por conflitos e transformações, ajudou a moldar os contornos do Brasil moderno, lançando as bases para o país que emergiria nos séculos XX e além.

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