Teoria da História e Historiografia - 9 Historicismo e história

 Introdução

O historicismo, um movimento cultural germânico do século XIX, desempenhou um papel fundamental na formação da ciência histórica moderna. Originado como uma resposta à crise de orientação das sociedades europeias após a Revolução Francesa, o historicismo se desdobrou em várias fases, incluindo o historicismo romântico, a escola histórica alemã e o historicismo epistemológico. Cada fase trouxe contribuições significativas para a compreensão da história como disciplina científica. Neste contexto, figuras como Wilhelm Dilthey se destacaram ao desafiar o positivismo e enfatizar a importância da experiência vivida na interpretação histórica. Além disso, a evolução dos paradigmas nas ciências sociais ao longo do tempo reflete o desenvolvimento do pensamento humano sobre as sociedades e suas complexidades. Este texto explora a influência do historicismo e de pensadores como Dilthey nas ciências sociais, bem como a evolução dos paradigmas que moldam nossa compreensão das sociedades contemporâneas.

1 Historicismo romântico e epistemológico

O historicismo, derivado da palavra alemã "Historismus", é um movimento cultural germânico do século XIX associado à revolta romântica contra o Iluminismo. Esta abordagem viu seu apogeu com a escola histórica alemã liderada por Leopold von Ranke e Johann Gustav Droysen, transformando a história em uma disciplina profissional e científica. O historicismo surgiu como uma reação à crise de orientação das sociedades europeias após a Revolução Francesa, buscando uma nova consciência histórica crítica ao racionalismo iluminista. O movimento historicista tinha como objetivo reforçar o passado, construindo uma "história científica" que reconstituísse fielmente o passado, opondo-se ao racionalismo iluminista e favorecendo a monarquia prussiana.

O historicismo se desenvolveu em três fases distintas: o historicismo romântico, que valorizava o passado e exaltava a individualidade e originalidade de cada povo; a ascensão da escola histórica alemã, liderada por Droysen e Ranke, que enfatizava a objetividade na reconstituição histórica; e o historicismo epistemológico, que surgiu no final do século XIX e início do século XX, questionando a filosofia da história do historicismo romântico. O historicismo epistemológico envolvia uma divisão entre duas correntes filosóficas principais: uma liderada por Wilhelm Dilthey, que unia a epistemologia à filosofia, e outra por Heinrich Rickert e Wilhelm Windelband, que rejeitava a filosofia, defendendo uma abordagem puramente concreta e objetiva da história. O historicismo, em suas várias fases, desempenhou um papel crucial na formação da ciência histórica moderna.

2 Experiência vivida e veracidade no processo histórico em Wilhelm Dilthey

Wilhelm Dilthey, filósofo alemão do século XIX, foi fundamental para o desenvolvimento das ciências sociais e humanas. Ele contestou o positivismo e acreditava que a compreensão das ciências humanas deveria ser baseada na experiência vivida dos indivíduos. Contrário à ideia de leis gerais na história, Dilthey enfatizou a importância dos "motivos" e "desejos" para explicar as transformações sociais. Ele desenvolveu a filosofia da vida, que considerava a vivência como o fundamento do conhecimento humano. Para Dilthey, a objetividade das vivências, expressas e compreendidas, constituía a base para a verdade no processo histórico. Além disso, ele destacou a autoconsciência como fundamental para validar o pensamento humano, estabelecendo um "nexo de verdades" que fundamenta o conhecimento verdadeiro da realidade histórico-social. Dilthey teve debates importantes com a escola de Baden, representada por Windelband e Rickert, sobre os métodos das ciências sociais e da história. Essas disputas influenciaram profundamente o desenvolvimento das ciências humanas no final do século XIX. Para entender mais sobre essa disputa, um texto relevante é “O problema da experiência na disputa sobre o método científico: Dilthey, Windelband e Rickert”, do professor de filosofia José de Rezende Júnior.

3 História e paradigmas das ciências sociais na atualidade

Nos campos das ciências sociais, paradigma refere-se a um consenso dentro da comunidade científica sobre as regras e metodologias em um determinado campo de estudo. Nas ciências sociais, devido à sua natureza subjetiva, os paradigmas são complexos. O desenvolvimento dessas ciências teve início no século XVI após a revolução científica liderada por Copérnico, Galileu e Newton, que também influenciou a filosofia. Filósofos como Descartes, Spinoza e Leibniz se concentraram na epistemologia e no método científico. No século XIX, surgiram paradigmas significativos como o positivismo de Comte, que buscava objetividade nas investigações sociais, e o materialismo histórico-dialético de Marx e Engels, que analisava as sociedades em termos de lutas de classe. Atualmente, quatro conjuntos de pressupostos - ontológicos, epistemológicos, natureza humana e metodológicos - formam a base para os paradigmas das ciências sociais: funcionalista, interpretativo, humanismo radical e estruturalista radical. Na era da globalização, o paradigma predominante nas ciências sociais é o da globalização, que requer uma perspectiva global para entender as sociedades contemporâneas, considerando as influências transnacionais e as comunicações instantâneas entre diferentes partes do mundo. Assim, novos paradigmas e metodologias são essenciais para compreender os fenômenos sociais do século XXI.

Conclusão

O historicismo, em suas várias fases, e as contribuições de pensadores como Wilhelm Dilthey desempenharam um papel crucial na definição da ciência histórica e das ciências sociais. A ênfase na experiência vivida como uma base para a compreensão histórica reflete a complexidade das sociedades humanas e a necessidade de considerar as perspectivas individuais para uma análise completa. Além disso, a evolução dos paradigmas nas ciências sociais ao longo do tempo demonstra a adaptabilidade do pensamento humano à medida que as sociedades se transformam e novos desafios surgem. No século XXI, em meio à globalização e à rápida mudança social, a busca por novos paradigmas e metodologias continua, desafiando os estudiosos a compreenderem as sociedades contemporâneas em toda a sua diversidade e interconexão global. Ao examinar o legado do historicismo e as atuais tendências paradigmáticas, podemos construir uma compreensão mais profunda e abrangente das complexidades das sociedades humanas.

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