História da América - 12 Revoltas e guerras na América colonial

 

Introdução

O século XVIII na América colonial foi marcado por crescentes insatisfações e revoltas que moldaram o curso da história. As influências do Iluminismo, aliadas às práticas opressivas e reformas bourbônicas, desencadearam movimentos de resistência contra a exploração colonial espanhola. A Revolta de Tupac Amaru II e o Movimento Comunero representam episódios emblemáticos, enquanto a Guerra dos Sete Anos e o arrocho colonial inglês desencadearam tensões que culminaram na Independência das Treze Colônias.

1 O Iluminismo e as insatisfações de colonos e escravizados na América espanhola

No século XVIII, a América colonial testemunhou um aumento significativo de revoltas e lutas contra a opressão, com motivações diversas. Janice Theodoro da Silva destaca que algumas rebeliões na América espanhola foram impulsionadas por insatisfações relacionadas aos excessos de trabalho impostos aos indígenas, além de práticas como antropofagia, poligamia e desrespeito aos rituais indígenas pelos espanhóis. A desvantagem política dos indígenas, fragmentados territorialmente, fortaleceu a posição dos espanhóis, que exploravam a fragmentação para impor sua presença.

Ao longo do tempo, as populações americanas compreenderam os princípios morais difundidos pelos espanhóis, organizando protestos sociais e políticos. As insatisfações, que precederam os movimentos rebeldes e as lutas de independência, tornaram-se um discurso político unificado, centrado nos preceitos morais criados pelos próprios espanhóis. A análise de Silva sugere que as revoltas não se baseavam em uma consciência política ancestral indígena, mas sim em uma ética política construída a partir da conquista, questionando as injustiças no exercício do poder. O contexto histórico do Iluminismo também influenciou, com suas ideias circulando na América e gerando impactos singulares. As reformas bourbônicas na Espanha, inspiradas no despotismo esclarecido, centralizaram o poder e intensificaram a fiscalização colonial, resultando em revoltas e insatisfações entre os colonos.

2 A Revolta de Tupac Amaru II e o Movimento Comunero

José Gabriel Tupac Amaru II, descendente da família real inca, liderou a Revolta de Tupac Amaru II no século XVIII contra a exploração colonial espanhola. As insatisfações foram alimentadas pelas reformas bourbônicas, que ampliaram taxações e impostos, gerando conflitos entre autoridades espanholas, criollos e indígenas. A revolta, iniciada pacificamente, buscava a extinção da mita, regime de trabalho desumano nas minas, e outras mudanças no sistema colonial. Contudo, a desunião entre indígenas e criollos, aliada à oposição do visitador espanhol Areche, resultou na derrota do movimento em 1781, com Tupac Amaru II brutalmente executado.

Paralelamente, o Movimento Comunero, inspirado pela revolta peruana, ocorreu em 1781 no Vice-Reino de Nova Granada. As reformas bourbônicas e a imposição de novos impostos desencadearam protestos amplos e violentos. A revolta envolveu diversas camadas sociais, como grandes fazendeiros criollos, pequenos agricultores, indígenas e negros escravizados. O criollo Juan Francisco de Berbeo liderou inicialmente, mas José Antonio Galán destacou-se ao radicalizar o movimento. Apesar da participação criolla, a radicalização levou à colaboração destes com as autoridades, resultando na captura e execução de Galán e outros líderes em 1782. Os movimentos, embora derrotados, plantaram sementes de liberdade e anseios democráticos na América colonial.

3 A Guerra dos Sete Anos e os objetivos do arrocho colonial inglês

A Guerra dos Sete Anos, que ocorreu de 1756 a 1763, foi crucial no desdobramento histórico, destacando-se por eliminar o Império Francês das colônias norte-americanas. Apesar da ascensão da Inglaterra como potência mundial, a guerra e seus desdobramentos impulsionaram a Independência das Treze Colônias em 1776. A rivalidade colonial e econômica entre França e Grã-Bretanha gerou um conflito global, envolvendo blocos militares na Europa e impactando regiões como América do Norte, Índias Ocidentais, Índia, África, Mediterrâneo, Canadá e Caribe.

Após a vitória britânica, surgiram tensões entre os colonos e o governo inglês, resultando em imposições como a presença de um exército na América e medidas fiscais, como a Lei do Açúcar de 1764. O aumento do controle e taxações, somados à proibição de expansão territorial para os colonos, geraram insatisfação generalizada. O período pós-Guerra dos Sete Anos marcou o início do arrocho colonial inglês, visando fortalecer o controle sobre as colônias, promover práticas mercantilistas e ampliar a arrecadação para compensar os custos da guerra.

A política de arrocho colonial, evidenciada por leis como a do Selo, da Moeda e do Chá, intensificou a insatisfação nas Treze Colônias. O monopólio do chá, destacado pela Boston Tea Party em 1773, desencadeou reações do Parlamento inglês, resultando nas Leis Intoleráveis de 1774. A resposta severa do governo britânico acelerou o processo de independência, marcado por influências do Iluminismo e ideias de autores como John Locke, culminando na declaração da Independência das Treze Colônias em 1776.

Conclusão

As insatisfações na América colonial do século XVIII transcendem as fronteiras geográficas e culturais, refletindo uma busca universal por justiça e liberdade. Os movimentos liderados por Tupac Amaru II e o Movimento Comunero expressaram as vozes oprimidas, marcando um capítulo de resistência que deixou um legado de aspirações democráticas. Paralelamente, a Guerra dos Sete Anos e o arrocho colonial inglês acenderam a chama da independência nas Treze Colônias, semeando os ideais que levariam à formação dos Estados Unidos. O século XVIII, permeado por desafios e transformações, foi um período crucial que moldou o curso futuro das Américas.

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