História da Cultura Africana e Indigena - 1 A África e os africanos antes da chegada dos europeus: reinos, povos e culturas

 

Introdução 

A história dos povos africanos do Sahel, região que abrange partes do norte da África, é marcada por uma rica tapeçaria de práticas culturais, desenvolvimentos sociais, políticos e econômicos. Este contexto abrange desde as práticas antigas de trabalho com barro até a formação de impérios e sociedades tributárias-mercantis que desempenharam papéis cruciais no comércio transaariano.

1 Os povos africanos do Sahel: características sociais

Os povos africanos do Sahel têm uma história que remonta a 4000 a.C., com práticas como o trabalho com barro e o pastoreio. A desertificação do Saara levou muitos a se tornarem nômades, como os tuaregues. O deslocamento de caucasoides para o norte e negroides para o sul do Sahel resultou em um aumento populacional e desenvolvimento agrícola. A transumância sazonal de rebanhos entre a savana e o Sahel facilitava o comércio entre pastores e agricultores, mas também gerava temores de sedentarização e conflitos.

A organização social dos povos sahelianos envolvia agrupamentos pequenos, agricultura de subsistência e distribuição da terra entre famílias, baseada em conselhos de anciões. A família estendida era a unidade fundamental, organizada de maneira patrimonial ou matrimonial. A concepção de chefe na sociedade saheliana diferia da moderna, enfatizando a união e solidariedade. O poder não era hereditário, e a religião desempenhava papel crucial, com os chefes sendo legitimados pelos sacerdotes que consultavam entidades sobrenaturais. O comércio interno e a organização do trabalho contribuíram para sociedades tributárias-mercantis e a formação de impérios ricos no Sahel.

2 As relações políticas e econômicas na constituição das sociedades sahelianas

As sociedades sahelianas foram significativamente influenciadas pelo islamismo, especialmente em termos político-administrativos. O comércio floresceu com a conversão de estados africanos ao Islã, facilitando a intermediação entre o Mediterrâneo e o Sahel pelos povos azanegues e tuaregues. Estes estabeleciam acampamentos temporários em áreas férteis, fortalecendo laços com comunidades locais e impulsionando o surgimento de cidades como Tombuctu. O comércio transaariano envolvia bens diversos, como sal, tecidos, ouro e noz-de-cola, com o deslocamento utilizando camelos, asnos e cavalos, além de canoas em regiões de água.

O Reino de Gana, fundado no século IV, prosperou devido à sua localização estratégica na rota comercial saariana e à presença de reservas de metal. A troca de ouro por sal era comum, e Gana alcançou seu apogeu por volta do século X. Contudo, enfrentou declínio devido a ataques dos Almorávidas e à ascensão de outros impérios sudaneses. O império do Mali, no século XIII a XV, liderado por Sundiata, expandiu-se controlando o comércio transaariano de ouro e sal. A organização política era hierárquica, com o rei, nobreza e conselho de anciões.

O Império de Songhai, iniciado no século XIII, atingiu seu apogeu no século XV sob Sonni Ali Ber. Entretanto, após sua morte, conflitos internos e ataques enfraqueceram o império, que sucumbiu à invasão marroquina em 1591. Outros reinos, como Tecrur, localizado nas margens do rio Senegal, Bornu, Kanem, e os reinos iorubás de Ifé e Benin, também desempenharam papéis importantes na região saheliana, com destaque para o comércio, governo descentralizado e influências islâmicas.

3 As características da África Centro-Ocidental e Oriental

A região da África Centro-Ocidental e Oriental apresentava características distintas, com destaque para o surgimento do Estado de Luba no século XIII, dominado por povos bantos. O Reino de Luba, com sua estrutura política centrada no rei descendente das linhas de guerreiros, incorporava diversas aldeias e formava um império. Outro polo importante era o Reino do Congo, originado por Nimia Nzima entre 1350 e 1375, que se expandiu por conquistas e alianças, abrangendo territórios da costa oeste do Atlântico até Luozi. O Reino de Ndongo, situado entre os rios Kwanza e Bengo em Angola, viu seu poder aumentar no século XVI com a centralização sob o Ngola.

Na África Oriental, o Reino Xunguaia nas proximidades do rio Juba deu origem à cultura suaíli por volta do século VI. As cidades-estado, como Quíloa e Mombaça, eram governadas por sultões ou xeques, com influência das leis islâmicas. O comércio intenso permitiu contatos com árabes, persas e romanos, influenciando trocas culturais. Quiloa, importante centro comercial no século XII, declinou no século XV, dando lugar ao desenvolvimento de outras cidades na região do Índico.

Na região dos rios Zambeze e Limpopo, os povos bantos desenvolveram práticas agrícolas, de pastoreio e metalurgia. O Grande Zimbábue, centro comercial importante no século XV, entrou em decadência devido a vários fatores, levando à transferência da capital para a região do Dande. Surgiram dinastias Monomotapa, com a cidade de Ingombe Ilede como concorrente da Grande Zimbábue. A influência portuguesa sobre o reino Monomotapa intensificou-se do século XVI ao XVII.

Conclusão

Os povos do Sahel e das regiões Centro-Ocidental e Oriental da África construíram sociedades complexas, influenciadas por fatores geográficos, comerciais e culturais. Desde práticas antigas até o florescimento de impérios, essas comunidades desempenharam papéis cruciais no desenvolvimento histórico e cultural do continente africano, contribuindo para a diversidade e riqueza de sua história.

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