Metodologia do Ensino de História - 1 Organização dos conteúdos de História: os aspectos socioculturais e sua influência na prática docente

 

Introdução

A trajetória do ensino de História no Brasil é marcada por transformações significativas na seleção e organização dos conteúdos ao longo dos anos. Desde o século XIX, a disciplina evoluiu de uma abordagem centrada na história europeia para uma perspectiva mais abrangente, incorporando a história do Brasil e, posteriormente, buscando uma compreensão mais crítica e inclusiva. Este processo, entrelaçado com eventos históricos e mudanças sociopolíticas, moldou o panorama educacional e influenciou a forma como a História é transmitida e percebida.

1 A seleção e organização dos conteúdos a serem trabalhados em História

A disciplina de História no Brasil teve sua instituição no século XIX, inicialmente focada na história da civilização europeia. Após a proclamação da República, a História do Brasil passou a integrar os currículos, com ênfase na história pátria e na constituição do povo brasileiro. Ao longo do século XX, o ensino priorizou aspectos políticos, institucionais e de disputas de poder, com pouca adaptação às mudanças historiográficas. A teoria marxista introduziu uma abordagem crítica, influenciando a organização dos conteúdos em torno das questões econômicas.

A partir do século XX, houve uma renovação nos temas de História, incluindo mulheres, crianças, religiosidades e estrutura do conhecimento histórico nos currículos. O golpe militar de 1964 impactou o ensino, eliminando disciplinas como História e Geografia. Somente durante a redemocratização nos anos 80, houve uma reformulação no ensino de História, considerando professor e aluno como sujeitos do conhecimento. As mudanças foram impulsionadas pela promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996, que destacou a necessidade de articular conhecimento, competências e valores na aprendizagem. Nos anos iniciais do ensino fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais de História, propostos em 1996, buscaram relacionar os conteúdos à realidade cotidiana das crianças, enfatizando a compreensão de conceitos fundamentais como tempo, espaço e sociedade. No entanto, a escolha dos conteúdos e métodos ainda é frequentemente influenciada pelo livro didático, exigindo maior participação dos professores nesse processo.

2 Organização curricular e suas implicações no ensino

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica atualmente enfatizam princípios como interdisciplinaridade, autonomia cidadã, livre arbítrio, diversidade e inclusão. Diante do constante acúmulo de informações, os professores enfrentam o desafio de fazer escolhas didáticas relevantes para uma educação mais contemporânea. A responsabilidade do professor na seleção e organização dos conteúdos é crucial, e a renovação constante desses conteúdos, conforme Bittencourt destaca, permite novas abordagens e dá voz a sujeitos historicamente silenciados.

No processo de escolha, os professores desempenham um papel central na seleção e organização dos conteúdos, superando limitações de uma abordagem meramente tradicional. A questão-chave reside na necessidade de conhecimento prévio dos conteúdos e na habilidade de desenvolver metodologias que promovam a aprendizagem dos alunos. A conscientização sobre a importância dessa seleção e organização dos conteúdos é fundamental para a prática docente, sugerindo a possibilidade de envolver os alunos nesse processo.

3 A influência da organização curricular na prática docente

A prática docente é profundamente impactada pela escolha dos conteúdos a serem abordados em sala de aula. É crucial que os professores adotem uma abordagem crítica em relação aos conteúdos propostos pelas diretrizes curriculares, assegurando que contribuam para os objetivos da disciplina. A compreensão do contexto de vida dos alunos, o comprometimento com a disciplina e o conhecimento aprofundado dos temas a serem ensinados são essenciais para o planejamento eficaz e a adaptação contínua.

A aproximação dos conteúdos à realidade dos alunos, especialmente por meio da abordagem de "História Regional ou Local", é enfatizada como uma estratégia eficaz. Essa abordagem não apenas facilita a assimilação dos assuntos, mas também promove um senso de pertencimento e identidade. A seleção e organização dos conteúdos pelos professores refletem sua concepção de mundo e de História, influenciando diretamente a formação cidadã dos alunos. A escolha cuidadosa dos temas e a maneira como são ensinados desempenham um papel crucial na promoção da diferença, tolerância e consciência histórica.

Conclusão

A seleção e organização dos conteúdos em História desempenham um papel vital na formação educacional e cidadã dos alunos. Desde as primeiras décadas do século XIX até os dias atuais, as mudanças nas diretrizes curriculares refletem uma constante busca por uma abordagem mais relevante e inclusiva. Os desafios atuais exigem que os professores desempenhem um papel ativo na escolha dos temas, adotando abordagens críticas e promovendo a conexão entre os conteúdos e a realidade dos alunos. A responsabilidade docente na organização curricular é, portanto, um fator-chave para moldar uma educação histórica que estimule o pensamento crítico, a compreensão contextual e a formação de cidadãos conscientes.

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