Metodologia do Ensino de História - 2 O saber histórico e o saber histórico escolar: limites e possibilidades na prática pedagógica

 

Introdução

O ensino de História desempenha um papel fundamental na formação cidadã, fornecendo uma visão crítica e contextualizada das ações humanas ao longo do tempo. Enquanto o saber histórico construído por historiadores especializados evolui constantemente, o saber histórico escolar busca adaptar e transmitir esses conhecimentos de maneira didática. Ao longo da história da História no Brasil, diferentes abordagens teórico-metodológicas influenciaram a construção dos conteúdos pedagógicos, refletindo as mudanças sociopolíticas e educacionais. A transição da História Tradicional para a Nova História representa não apenas uma evolução metodológica, mas uma redefinição da própria narrativa histórica, incorporando uma perspectiva mais crítica e diversificada.

1 Saber histórico e saber histórico escolar

A importância do ensino de História reside na compreensão da ação humana ao longo do tempo, oferecendo uma visão crítica dos eventos e sujeitos históricos. A disciplina busca promover a formação cidadã, refletindo sobre a atuação individual nas relações sociais, afetividades e participação coletiva. A História também desafia os alunos a respeitar a diversidade cultural, fornecendo uma compreensão mais profunda do mundo presente e desejado.

A construção do saber histórico envolve pesquisadores especializados reunindo informações de diversas fontes históricas. Essas fontes, que incluem documentos, artefatos, testemunhos e diversas expressões culturais, são interpretadas de maneira crítica pelos historiadores. A história, portanto, é uma narrativa em constante evolução, aberta a múltiplas interpretações. O saber histórico escolar, por outro lado, é a disciplinarização desse conhecimento para apresentação no ambiente escolar, adaptado de maneira didática por meio de materiais pedagógicos.

2 A história da História: abordagens teórico-metodológicas

A história da História no Brasil revela a influência de diferentes abordagens teórico-metodológicas nos livros didáticos ao longo do tempo. Três vertentes historiográficas notáveis são o Positivismo, o Materialismo Histórico (ou marxista) e a Nova História (ou História Crítica). O Positivismo, predominante durante o regime militar, enfatizava figuras políticas nacionais e eventos lineares. O Materialismo Histórico, mais proeminente na era democrática, focava em lutas de classes e modos de produção. A Nova História surge nas décadas de 1990, destacando-se por abordagens sociais, culturais e do cotidiano, quebrando com a linearidade e determinismo das abordagens anteriores.

A Nova História busca uma visão mais construtivista e dialética, preocupando-se com a vida cotidiana, relações sociais, representações culturais e o presente. Diferentemente das abordagens tradicionais, essa vertente reconhece a diversidade de formas de viver e representar o tempo, explorando ritmos, tempos e lugares variados. Enquanto o Positivismo e o Materialismo Histórico são considerados "História Tradicional", marcados por uma visão evolutiva e determinista, a Nova História procura romper com interpretações rígidas e problematizar o presente na compreensão do passado.

3 Os limites e as possibilidades da estruturação curricular do “saber histórico escolar”

A renovação da abordagem historiográfica não descarta conceitos fundamentais como temporalidade e espaço, embora os apresente de maneira não linear, afastando-se das visões deterministas do Positivismo e do Materialismo ortodoxo. A História crítica não abandona completamente as interpretações tradicionais, mas propõe o questionamento como uma via essencial de compreensão. A perspectiva renovada da história, ao considerar o cotidiano e os problemas contemporâneos, reconhece a limitação de uma visão eurocêntrica, incentivando uma compreensão mais ampla e contextualizada das diversas culturas. No entanto, o desafio persiste em interpretar o presente à luz de suas continuidades e rupturas em relação ao passado, explorando as dinâmicas de dominação e resistência nos contextos cotidianos.

Conclusão

A história da História revela um constante movimento de transformação e adaptação, tanto nos métodos de pesquisa quanto na estruturação curricular do saber histórico escolar. A transição de abordagens deterministas para interpretações mais contextualizadas e problematizadoras destaca a natureza dinâmica da disciplina. A Nova História, ao desafiar visões eurocêntricas e linearidades simplificadas, oferece uma abordagem mais inclusiva, destacando a importância do cotidiano, das relações sociais e das representações culturais. No entanto, os desafios persistem na interpretação do presente à luz do passado e na compreensão das dinâmicas de dominação e resistência nos contextos cotidianos, exigindo uma abordagem crítica e reflexiva no ensino e aprendizado da História.

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