Metodologia do Ensino de História - 11 O livro didático de história: estratégias de uso

 

Introdução

O livro didático de história, um componente crucial do ambiente educacional, transcende seu papel como mero depositário de fatos históricos. Esta análise aborda sua complexidade, destacando-o como um "primo pobre" da literatura, muitas vezes subestimado, mas essencial para a escolarização da sociedade. Sua natureza como produto cultural é explorada, revelando sua influência na formação de visões sobre a história e a cultura. Além disso, examina-se o uso na sala de aula, indo além da mera transmissão de conteúdo, visando fomentar a análise crítica e a compreensão profunda dos contextos históricos.

1 O livro didático de história

A relação simbiótica entre o livro didático e a escola é destacada, com a expansão da escolarização ampliando o público leitor e, por sua vez, os livros didáticos possibilitando a própria escolarização da sociedade. Ao longo do século XIX, o processo se intensificou com a consolidação dos Estados nacionais e princípios de ensino público obrigatório. A análise revela várias valorações do livro didático ao longo do tempo, desde sua condição indispensável para alguns professores até o repúdio por erros históricos e preconceitos identificados em algumas coleções.

O livro didático é também abordado como material de apoio ao ensino de história. O Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) destaca a necessidade de desconstruir a visão do livro didático como detentor de uma verdade absoluta, incentivando práticas educativas contemporâneas que respeitem a diversidade cultural e étnica. Essa abordagem visa mobilizar processos mediacionais entre professores e estudantes, promovendo uma interpretação histórica para a compreensão do mundo.

2 Livro didático enquanto produto cultural

O livro didático, enquanto produto cultural, vai além de ser apenas um repositório de dados históricos, sendo complexo em sua natureza e função. Como mercadoria, sua produção, distribuição e consumo são regulamentados pelo Estado no Brasil, gerando um comércio significativo para as editoras. Diversos intervenientes, como editores, autores e ilustradores, desempenham papéis na sua construção. Além disso, o livro didático serve como depositório dos conteúdos escolares, sendo o suporte básico dos currículos educacionais, e também atua como instrumento pedagógico, fornecendo estruturas e técnicas de aprendizagem aos professores e alunos. Ele carrega consigo valores, ideologias e culturas que contribuem para a formação de visões específicas sobre a história e a cultura.

Entender o livro didático como mercadoria não exclui sua natureza cultural; ao contrário, ele passa por seleções ideológicas e teóricas antes de chegar aos alunos, tornando-se verdadeiramente um produto cultural. Como tal, os livros didáticos desempenham um papel crucial na transmissão da cultura e na formação de representações sobre identidades culturais. Além disso, como produtos culturais, os livros didáticos refletem as subjetividades de seus criadores, inseridos em contextos específicos e reproduzindo visões de mundo e relações de poder. Assim, eles não apenas veiculam ideologias, mas também servem como fontes valiosas para compreender a história da educação e as práticas culturais de uma sociedade em determinado período.

3 Uso do livro didático na aula de história

O uso do livro didático na aula de história não se limita apenas à leitura e realização de exercícios, envolvendo práticas mais complexas, como leitura silenciosa ou em voz alta, cópia na lousa ou caderno, rabiscos nas páginas e transporte entre casa e escola. Além das atividades tradicionais, o livro desempenha diferentes funções na aula de história, incluindo a referencial, instrumental, ideológica e cultural, e documental. A função referencial envolve a distribuição dos conteúdos históricos de acordo com diferentes abordagens, como história convencional, história integrada e história temática. A função instrumental trata da metodologia de ensino e exercícios, enquanto a função ideológica e cultural reflete a representação do passado orientada para a educação. Por fim, a função documental destaca o livro como um documento que auxilia no desenvolvimento de habilidades analíticas e críticas.

Para os futuros professores, a utilização efetiva do livro didático vai além das atividades tradicionais, buscando contribuir para a construção de conceitos e posturas diante do mundo, favorecendo a compreensão de processos sociais, científicos, culturais e ambientais. Proporcionar aos alunos uma série de questionamentos críticos em relação aos livros didáticos pode estimular uma abordagem mais ampla, abordando temas como a representação das mulheres, questões de gênero, educação em direitos humanos, diversidade, cidadania, e a positivação de indígenas e negros na história. Essa abordagem vai além da visão tradicional de livros didáticos como repositórios de conteúdos, incentivando uma análise mais crítica e reflexiva.

Conclusão

O livro didático, permeado por complexidades como mercadoria e produto cultural, assume um papel multifacetado na educação histórica. Sua relevância vai além do fornecimento de informações, estendendo-se à construção de identidades culturais e à transmissão

de valores. Como ferramenta pedagógica, desafia os educadores a utilizá-lo de maneira inovadora, estimulando o pensamento crítico dos alunos e promovendo uma compreensão mais profunda dos contextos históricos. Nesse sentido, a análise cuidadosa e a reflexão contínua sobre o papel do livro didático na sala de aula são essenciais para garantir que ele cumpra sua função de maneira eficaz, contribuindo para uma educação histórica rica, inclusiva e consciente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário