14. Aspectos culturais e religiosos no Brasil Colônia

 


Introdução

O texto destaca a diversidade cultural e religiosa na América portuguesa, incluindo indígenas, africanos escravizados e colonos europeus. Cada grupo era bastante diverso, levando a múltiplas expressões culturais e religiosas, e resultou em sincretismos entre eles. O capítulo explora o papel da Igreja Católica na colonização, o sincretismo religioso entre africanos, europeus e indígenas, e também aborda movimentos artísticos e literários nos círculos culturais europeus da época.

1 A Igreja Católica e a colonização da América lusa

A Igreja Católica desempenhou um papel crucial na colonização da América portuguesa, buscando converter os indígenas ao catolicismo como parte da estratégia de colonização. Essa relação próxima entre a Coroa e a Igreja resultou em políticas religiosas e econômicas integradas, com a criação do "padroado", permitindo ao monarca português exercer tanto o poder político quanto o espiritual. Os jesuítas, parte da Companhia de Jesus, desempenharam um papel significativo como missionários oficiais da coroa, estabelecendo escolas e colégios para converter os indígenas. No entanto, surgiram conflitos entre a Igreja e os colonos, especialmente em relação à escravização dos indígenas. Apesar do poder da Igreja Católica, outras religiões, incluindo religiosidades africanas e indígenas, bem como o protestantismo em áreas colonizadas por franceses e holandeses, também coexistiram na América portuguesa. A presença de cristãos-novos e judeus na colônia também foi marcada, embora controlada pela Inquisição em busca de "falsas conversões" ao catolicismo. Assim, a América portuguesa foi um terreno complexo de diversidade religiosa, apesar da predominância do catolicismo.

2 Sincretismos religiosos

Na América portuguesa, as práticas religiosas eram intrínsecas à vida cotidiana, permeando aspectos culturais, sociais e políticos. Ao contrário da separação moderna entre esferas religiosas e secular, naquela época, religião não era apenas uma tradição, mas uma parte essencial do modo de vida. As crenças e rituais dos africanos escravizados, por exemplo, eram uma expressão de sua identidade e resistência. Apesar da escassez de registros, sabemos que cerimônias como acotundá, candomblé e calundu eram praticadas, envolvendo um sincretismo entre tradições africanas e elementos do catolicismo. O acotundá, por exemplo, era uma dança onde palavras católicas eram mescladas com dialeto africano, indicando uma fusão cultural e religiosa.

No contexto das práticas indígenas, os pajés ou caraíbas, homens com habilidades espirituais especiais, eram considerados "santidades" pelos jesuítas. Estes rituais, embora baseados na mitologia tupi, também apresentavam influências do catolicismo devido à educação em escolas jesuítas. O sincretismo religioso era evidente, e episódios como a "Santidade do Jaguaripe" na Bahia em 1586 ilustram como práticas indígenas foram entrelaçadas com elementos católicos.

Assim, na América portuguesa, o sincretismo religioso era comum, mostrando como diferentes grupos étnicos e culturais adaptavam e mesclavam suas crenças de acordo com suas necessidades espirituais e sociais, criando uma realidade religiosa diversificada e complexa. Apesar da predominância do catolicismo, o sincretismo religioso era uma característica marcante do cenário religioso colonial.

3 Artes e literatura na América portuguesa

Na América portuguesa, as manifestações artísticas e literárias estavam predominantemente ligadas aos europeus e seus descendentes, com as contribuições de africanos e indígenas sendo documentadas por meio de arqueologia e transmissão oral. Durante o período colonial, os escritores brasileiros, formados à moda portuguesa, produziam literatura principalmente para um público português ou para necessidades práticas administrativas e religiosas. A primeira obra considerada foi a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel, que refletia interesses mercantis e religiosos, além de um olhar observador e descritivo.

Nas artes e na cultura, os colégios jesuítas foram centros de catequese para indígenas e colonos, usando manifestações artísticas para transmitir valores cristãos adaptados à realidade dos nativos. Padres como José de Anchieta e Antônio Vieira se destacaram nesse contexto. Fora desses espaços religiosos, poetas como Gregório de Matos Guerra abordaram temas amorosos, religiosos e satíricos, criticando as ações comerciais e mercantis da época.

No século XVIII, surgiram as primeiras academias artísticas e literárias na Bahia e no Rio de Janeiro, formando grupos sociais diversos. Com a descoberta de metais e pedras preciosas em Minas Gerais, desenvolveu-se o barroco mineiro nas artes e o arcadismo na literatura, este último caracterizado pela preferência por temas bucólicos e simplicidade, influenciado por modelos literários greco-romanos. O movimento barroco, trazido pelos jesuítas, dominou a produção artística da época, marcado por exuberância nas formas, oposições e uso de imagens.

Essa rica tradição artística e literária da América portuguesa continuou a evoluir até o século XVIII, quando o rococó começou a ganhar espaço, marcando uma transição estilística.

Conclusão

A América Portuguesa, durante o período colonial, foi um caldeirão cultural e religioso onde diferentes grupos étnicos e culturais interagiam, criando uma paisagem diversificada e complexa. No âmbito religioso, a presença predominante da Igreja Católica foi marcada por uma interação multifacetada com as crenças e práticas dos povos indígenas e africanos. O sincretismo religioso, evidente em rituais e tradições que combinavam elementos do catolicismo com práticas indígenas e africanas, foi uma característica distintiva da vida religiosa na colônia.

A Igreja Católica desempenhou um papel central na colonização, influenciando tanto as esferas políticas quanto as espirituais. O "padroado" permitiu que a Coroa portuguesa exercesse autoridade sobre questões religiosas, enquanto os jesuítas desempenharam um papel significativo na conversão dos indígenas, apesar dos conflitos e das tensões com os colonos. Além disso, outras religiões, como as práticas religiosas africanas e indígenas, coexistiram e muitas vezes se sincretizaram com o catolicismo, formando uma tapeçaria religiosa rica e diversificada.

No campo artístico e literário, a América Portuguesa viu o florescimento de diversas manifestações culturais, influenciadas por movimentos europeus como o barroco, o arcadismo e o rococó. Os colégios jesuítas foram centros de produção artística e literária, onde padres como José de Anchieta e Antônio Vieira deixaram um legado significativo. O barroco, com sua exuberância e complexidade, foi uma característica marcante das artes, enquanto o arcadismo trouxe uma simplicidade e um amor pela natureza à literatura.

Em suma, a América Portuguesa foi um terreno fértil para a interação e a fusão de diferentes culturas e crenças. Esse caldeirão cultural não apenas enriqueceu a paisagem religiosa e artística da colônia, mas também deixou um legado duradouro que ainda é visível na riqueza cultural do Brasil moderno, marcado por uma diversidade que é verdadeiramente uma das suas maiores riquezas.

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