Introdução
Neste capítulo, será examinada em detalhes a Questão Christie, destacando suas motivações, os principais envolvidos, o rompimento diplomático entre o Império Brasileiro e o Império Britânico, bem como o desfecho e as consequências desse evento histórico. A análise interdisciplinar da Questão Christie é fundamental, considerando não apenas a história, mas também as relações diplomáticas, internacionais, econômicas, comerciais e culturais envolvidas nesse conflito.
1 O complexo século XIX: origens da Questão Christie
O século XIX foi marcado por conflitos e movimentos nacionalistas em todo o mundo. Na Europa, houve guerras e unificações, como a unificação italiana e a unificação alemã. No Império Britânico, os irlandeses e húngaros buscaram independência, enquanto o Japão passou por mudanças nacionalistas.
Nos Estados Unidos, a Guerra Civil ocorreu entre 1861 e 1865, expondo rachaduras internas na nação. Na América do Sul, países como Equador, Chile, Bolívia e Peru se uniram contra a Espanha, resgatando o nacionalismo. A Guerra do Paraguai foi a mais sangrenta guerra da América do Sul, envolvendo Brasil, Uruguai e Argentina contra o Paraguai.
O nacionalismo desempenhou um papel crucial na política internacional, sendo usado tanto por grandes potências expansionistas quanto por Estados mais fracos que defendiam sua dignidade nacional.
No contexto das relações entre o Império Brasileiro e o Império Britânico, a Inglaterra pressionou o Brasil para acabar com o tráfico de escravos, levando à promulgação da Lei Eusébio de Queiroz. Eventos como o naufrágio de uma embarcação inglesa e a prisão de tripulantes britânicos contribuíram para a tensão entre os dois países. No entanto, esses incidentes, por si só, não explicam completamente a complexa relação entre eles.
2 William Dougal Christie: o diplomata que deu nome a uma quase guerra
William Dougal Christie foi um diplomata britânico enviado ao Brasil em 1859 durante o Segundo Reinado. Ele denunciou o comércio de escravos no Brasil e pressionou o governo brasileiro por informações detalhadas sobre a escravidão.
Durante sua estadia, dois incidentes intensificaram as tensões entre Brasil e Inglaterra: o naufrágio do navio britânico Prince of Wales em 1861 e a prisão de três oficiais da Marinha britânica em 1862. Christie exigiu investigações rigorosas e desculpas públicas do governo brasileiro, ameaçando bloquear o porto do Rio de Janeiro.
O Brasil cedeu às demandas britânicas, pagando uma indenização e libertando os navios apreendidos. A população brasileira culminou Christie como o principal problema nas relações entre os dois países, levando à sua substituição e ao fim do conflito conhecido como Questão Christie.
3 João Batista Calógeras e a Questão Christie
João Batista Calógeras, nascido em 2 de fevereiro de 1810, na Grécia, foi uma figura importante durante a Questão Christie. Formado em Direito na Universidade de Paris, Calógeras foi enviado ao Brasil para organizar uma agência no Rio de Janeiro devido às suas conexões com personalidades influentes, como Jacques Lafitte. Ele se tornou diretor da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros em 1862.
Calógeras estabeleceu relações políticas essenciais no Império e colaborou em várias revistas, demonstrando seu alto nível intelectual. Ele também fundou um colégio em parceria com o Barão de Tautphoneus, contando com nove professores e aulas de escrituração mercantil, sendo uma iniciativa incomum na época no Brasil.
Durante a Questão Christie, que envolveu um conflito diplomático entre Brasil e Inglaterra, Calógeras desempenhou um papel crucial. Ele participou ativamente das negociações, representando o Brasil em momentos delicados do conflito. O Brasil cedeu às exigências inglesas em relação ao incidente com a embarcação naufragada, mas Calógeras, juntamente com o governo brasileiro, conseguiu que o caso dos oficiais britânicos fosse decidido por arbitragem internacional.
Apesar da derrota diplomática, Calógeras desempenhou um papel significativo na resolução do conflito, demonstrando sua habilidade política e diplomática. A Questão Christie também teve conexões com a política externa brasileira no século XIX, que buscava estabelecer uma hegemonia continental no Prata e enfrentava desafios relacionados à escravidão e aos ataques britânicos. O Brasil acabou concordando com a deliberação do Rei Leopoldo, restabelecendo as relações diplomáticas com a Inglaterra em 1865.
Conclusão
A Questão Christie emerge como um episódio complexo e multifacetado nas relações diplomáticas entre o Império Brasileiro e o Império Britânico durante o século XIX. Este capítulo nos ofereceu uma análise detalhada dos eventos que levaram a esse conflito, iluminando os motivos, os protagonistas e os desdobramentos que marcaram essa contenda histórica.
O século XIX foi uma era de intensos movimentos nacionalistas, tanto na Europa quanto na América do Sul, onde nações buscavam sua identidade e independência em meio a conflitos e guerras. Nesse contexto, a Questão Christie foi uma parte intrínseca das dinâmicas globais desse período. As pressões britânicas para o fim do tráfico de escravos no Brasil, combinadas com incidentes como o naufrágio do navio Prince of Wales e a prisão de oficiais britânicos, exacerbaram as tensões entre os dois impérios.
O papel crucial de William Dougal Christie, o diplomata britânico cujo nome ficou associado a esse episódio, e de João Batista Calógeras, que desempenhou um papel central nas negociações, foi destacado. Enquanto Christie pressionava o Brasil com firmeza, Calógeras demonstrou habilidade diplomática ao enfrentar as demandas britânicas e garantir que a resolução do conflito fosse alcançada através da arbitragem internacional.
A Questão Christie não foi apenas um embate diplomático; foi um reflexo das complexas dinâmicas sociais, políticas e econômicas da época. O Brasil, uma nação em crescimento e transformação, teve que lidar não apenas com as pressões externas, mas também com suas próprias questões internas, incluindo a escravidão, que desempenhou um papel central nesse conflito.
No final, a resolução arbitral do Rei Leopoldo da Bélgica marcou o desfecho da Questão Christie. O Brasil, apesar das concessões feitas, preservou sua dignidade nacional e restabeleceu as relações diplomáticas com a Inglaterra em 1865. Este episódio, marcado por suas complexidades e nuances, permanece como um testemunho das tensões e desafios enfrentados por nações em desenvolvimento durante o século XIX, oferecendo insights valiosos para a compreensão das relações internacionais e da diplomacia na época.
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