No final do século XIX, o Brasil passou por uma desestabilização do regime monárquico, marcando a decadência do sistema político, social e econômico que sustentava o governo imperial. O desenvolvimento industrial capitalista ameaçou o sistema agroexportador escravista e a política foi afetada por disputas entre militares, maçons e o clero, desarticulando a aliança entre a Coroa, grandes proprietários rurais e a Igreja. O surto industrial liderado por Barão de Mauá, juntamente com as tensões entre o exército e o governo imperial, contribuíram para a ruína do regime monárquico, culminando na proclamação da República.
1 Importância do Barão de Mauá no contexto das transformações econômicas e sociais no Brasil na segunda metade do século XIX
Na segunda metade do século XIX, o Brasil passou por transformações significativas nas estruturas políticas, econômicas e sociais. A decadência das oligarquias tradicionais, a abolição da escravatura, a Guerra do Paraguai, o início da industrialização e urbanização foram eventos que abalaram o sistema político e econômico monárquico, levando à proclamação da República em 1889.
Nesse período, o café era o principal produto de exportação brasileiro, mas o centro de produção mudou para a região do Oeste Paulista, impulsionando o desenvolvimento econômico. O Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, foi um empreendedor emblemático desse período. Nascido em 1813, ele rapidamente se destacou no mundo dos negócios, aprendendo comércio e língua inglesa na empresa Carruthers & Co. Após uma viagem à Europa em 1840, onde se inspirou na Revolução Industrial, ele retornou ao Brasil e se tornou um dos empresários mais ricos do Segundo Reinado.
Mauá diversificou seus negócios, incluindo fazendas, estaleiros, ferrovias, bancos e empresas de navegação. Ele foi um pioneiro no desenvolvimento da rede ferroviária brasileira, construindo a primeira estrada de ferro entre o Rio de Janeiro e Petrópolis, além da estrada de ferro Central do Brasil. Ele também foi responsável pela instalação do primeiro telégrafo nacional e do sistema de iluminação pública no Rio de Janeiro.
Apesar de sua visão liberal e industrialista, Mauá enfrentou desafios devido à política centralizadora da Monarquia e à economia agroexportadora e escravista. Ele teve que se adaptar às condições impostas, muitas vezes enfrentando contradições em seus ideais liberais. Embora tenha sido agraciado com títulos de nobreza pelo imperador Dom Pedro II, Mauá acabou indo à falência em 1875, simbolizando a dissociação de seus interesses com os da Monarquia.
Apesar da falência, o legado de Mauá foi significativo. Ele contribuiu para iniciar a mudança do paradigma econômico brasileiro, promovendo a industrialização, o trabalho assalariado e grandes empreendimentos em uma sociedade ainda escravocrata e agroexportadora. Seu pragmatismo e visão empreendedora deixaram uma marca duradoura no Brasil do século XIX.
2 Relações entre Estado e Igreja Católica no Segundo Reinado
Durante o Segundo Reinado no Brasil, ocorreu um conflito significativo entre a Monarquia e a Igreja Católica, conhecido como "questão religiosa". Embora não tenha sido o fator principal para a proclamação da República em 1889, esse evento desempenhou um papel crucial nas transformações políticas do país.
A Constituição de 1824 garantia liberdade religiosa, mas estabelecia o monopólio da Igreja Católica em questões simbólicas e exigia que as autoridades políticas professassem a fé católica. O clero também tinha participação ativa no parlamento durante as primeiras legislaturas, mas essa influência diminuiu ao longo do tempo devido à abertura de escolas de direito que forneceram novos quadros para as instituições políticas.
A relação entre a Monarquia e a Igreja enfraqueceu ainda mais devido às novas diretrizes do Vaticano a partir de 1848, que buscavam maior autonomia da Igreja em relação ao Estado. Esse conflito atingiu seu auge quando bispos em Olinda e no Pará se envolveram em disputas com a maçonaria e foram condenados pelo Supremo Tribunal de Justiça.
A crise entre a Igreja e a Monarquia foi amenizada após um acordo entre o Vaticano e o governo imperial, que resultou na substituição do gabinete Rio Branco, na anistia dos bispos e na suspensão das proibições aos maçons. Embora essa disputa não tenha sido o único motivo para a queda da Monarquia, contribuiu para enfraquecer a estrutura política e institucional do regime, juntamente com outros fatores como a ascensão dos juristas, a influência do positivismo e a crescente demanda por uma República.
3 Crise militar e fim do regime monárquico
A crise militar na segunda metade do século XIX foi um fator crucial para o fim do regime monárquico no Brasil. Os militares, que inicialmente tiveram presença significativa na política durante o Primeiro Reinado, viram seu papel diminuído com a ascensão de D. Pedro II, que temia lideranças militares que pudessem conduzir o país para uma ditadura.
Até a Guerra do Paraguai (1864-1870), o exército brasileiro não era uma instituição permanente, havendo críticas internas, tanto relacionadas a questões internas da corporação quanto à situação do país, como a escravidão e a necessidade de desenvolvimento. A criação da Academia Militar em 1850 e a vitória na Guerra do Paraguai aumentaram a autoestima dos militares, fortalecendo o exército como instituição. Entretanto, os líderes militares continuaram excluídos dos altos escalões decisórios do Império, levando a reivindicações e protestos.
O positivismo, uma filosofia que defendia a separação entre Estado e religião e uma transformação social liderada por uma elite científica, foi adotado pelos militares brasileiros, influenciando sua visão política. Clubes secretos republicanos foram criados por alunos da Escola Militar, e o positivismo foi absorvido pelos militares de acordo com seus interesses políticos. Isso resultou em conflitos com o governo imperial e na aproximação dos militares com líderes abolicionistas, criando tensões com os defensores da escravidão. A criação do Clube Militar em 1887 uniu os militares na defesa de seus interesses comuns.
A crise da Questão Militar em 1886, culminando com a exoneração de Deodoro da Fonseca e Sena Madureira, demonstrou o embate entre militares e governo imperial. A nomeação de Visconde de Ouro Preto como presidente do governo intensificou as tensões, levando à ruptura entre os militares e o governo. Esse cenário de insatisfação e conflito militar, somado a outras transformações sociais e políticas, contribuiu para o cenário que culminou na proclamação da República em 1889.
Conclusão
O final do século XIX no Brasil foi marcado por uma tumultuada interseção de forças políticas, econômicas e sociais que precipitaram o colapso do regime monárquico e o advento da República. O papel crucial desempenhado por figuras como o Barão de Mauá, um visionário industrial que desafiou as limitações de uma economia agroexportadora e escravista, sublinhou a urgência de uma modernização econômica no país. Mauá, com sua visão pragmática e inovadora, abriu caminho para a industrialização e para uma economia mais diversificada, antecipando um Brasil que se movia em direção a um futuro industrial.
Enquanto isso, a relação conturbada entre o Estado e a Igreja Católica, destacada pela "questão religiosa", evidenciou a necessidade de separação entre os interesses eclesiásticos e políticos, sinalizando a necessidade de um Estado laico para o país. Esse conflito ressaltou a importância de uma política que respeitasse a liberdade religiosa e a autonomia das instituições políticas, contribuindo para a erosão das estruturas monárquicas.
Simultaneamente, a crise militar, marcada por uma série de insatisfações e conflitos internos dentro do exército, foi uma peça crucial no tabuleiro das mudanças políticas. Os militares, antes marginalizados no cenário político, emergiram como uma força a ser reconhecida, adotando ideais positivistas e republicanos, e unindo-se em busca de seus interesses comuns. Esse movimento desafiou diretamente o governo imperial, culminando em um cenário de crescente instabilidade política.
A convergência desses fatores – as transformações econômicas lideradas pela industrialização, as tensões entre o Estado e a Igreja, e a crise militar – foi o catalisador que precipitou o fim do regime monárquico em 1889. A proclamação da República não apenas encerrou um capítulo na história do Brasil, mas também abriu as portas para uma nova era de desenvolvimento, modernização e transformação social, moldando o país que se tornaria no século XX. Esses eventos, complexos e entrelaçados, não só marcaram o final do século XIX brasileiro, mas também estabeleceram as bases para o Brasil moderno que emergiria no século seguinte.
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