4. Expansão comercial marítima

Introdução

Os séculos XV ao XIX testemunharam uma transformação global impulsionada por uma série de eventos históricos interconectados, nos quais o mercantilismo e as grandes navegações desempenharam papéis centrais. O mercantilismo, como doutrina econômica, moldou as relações comerciais e políticas da Idade Moderna, enquanto as expansões marítimas europeias abriram novos horizontes, redefinindo o mapa do mundo e catalisando um período de intercâmbio cultural e econômico. Este panorama multifacetado é marcado pela busca por riquezas, novas rotas comerciais e a interação entre diferentes culturas. Ao explorar o mercantilismo e as navegações, desvendamos os fundamentos econômicos e as motivações por trás desses empreendimentos, examinando seu impacto na história global.

4.1 Mercantilismo e as navegações

O mercantilismo, que vigorou do século XV ao XIX, foi um conjunto de práticas econômicas com foco no comércio, desempenhando um papel crucial durante a Idade Moderna. Vinculado ao desenvolvimento do Absolutismo e às expansões marítimas europeias, o mercantilismo visava aumentar o poder real e fortalecer a economia dos reinos. A intervenção estatal, por meio de leis alfandegárias, promovia o protecionismo, buscando favorecer o mercado local e limitar importações.

Essa abordagem econômica também influenciou a expansão marítima europeia, impulsionada pela busca por metais preciosos, novas terras e oportunidades comerciais. Características-chave do mercantilismo incluíam o foco nas atividades mercantis, intervenção estatal para promover o comércio, protecionismo através de leis alfandegárias e a busca por uma balança comercial favorável. O Metalismo, relacionado à acumulação de metais como prata e ouro, era central, levando alguns países a desenvolverem manufaturas para compensar a falta de acesso direto a esses recursos. O exclusivo comercial e o monopólio nas colônias também foram aspectos marcantes do mercantilismo no contexto da colonização.

4.2 Expansão marítima e comercial europeia.

A expansão marítima europeia, iniciada no século XV, marcou uma nova fase no desenvolvimento comercial e náutico da Europa. No final do período medieval, o comércio estava limitado ao Mar Mediterrâneo, mas a busca por metais preciosos, terras e especiarias impulsionou as nações europeias a explorarem localidades mais distantes. Portugal e Espanha foram os pioneiros nesse empreendimento devido às condições favoráveis, competindo em uma série de disputas por terras. O objetivo principal era estabelecer novas rotas para as Índias, visando o acesso às valiosas especiarias.

A retomada do comércio e o crescimento das cidades nos séculos XIII e XIV já haviam introduzido a Europa à navegação e aos produtos lucrativos das negociações, como especiarias e tecidos finos. A expansão marítima representou um passo além, envolvendo empreendimentos mais arriscados em busca de novas oportunidades e recursos em terras distantes das costas europeias. A competição entre as nações ibéricas e as consequências dessa expansão são elementos essenciais para compreender esse período histórico.

4.3 Expansão marítima: fatores, contextos e consequências.

O fim do século XV na Europa apresentava um contexto propício para as navegações, destacando-se a aliança entre reis e burguesia, que possibilitou o financiamento estatal e a iniciativa privada para organizar expedições e desenvolver técnicas de navegação. O racionalismo emergente na época foi fundamental, impulsionando o desenvolvimento técnico, superando a mentalidade medieval e incentivando a exploração de distâncias maiores. No âmbito religioso, a Contrarreforma Católica apoiou as grandes navegações como uma oportunidade de catequese em novas populações, expandindo a influência da Igreja Católica.

Diversas motivações impulsionaram a expansão marítima comercial, incluindo a busca por metais preciosos, a exploração de novas terras para produção de alimentos e a ampliação das possibilidades de negociação e rotas comerciais. A queda de Constantinopla em 1453 enfraqueceu o comércio com o Oriente, incentivando a busca por novas rotas. Motivações políticas, comerciais e religiosas convergiram, criando o cenário propício para as explorações transatlânticas.

4.4 Ao mar! O pioneirismo português.

Portugal destacou-se como pioneiro nas navegações ultramarinas devido a diversos fatores cruciais. Em primeiro lugar, a formação prévia de Portugal como um Estado Nacional moderno, resultante das Cruzadas de Reconquista e da Revolução de Avis em 1385, fortaleceu a independência do país. Durante essa revolta, a burguesia e a população, temendo a anexação a Castela, apoiaram João "Mestre de Avis" como rei, fortalecendo os laços entre a burguesia e a monarquia.

O posicionamento geográfico de Portugal, sua ênfase na navegação devido às dimensões pequenas do reino e a vocação para o comércio também contribuíram para seu protagonismo. A relação estreita entre o Estado português, a Igreja Católica e a burguesia impulsionou as navegações, visando a expansão territorial e a catequese. Adicionalmente, o conhecimento náutico desenvolvido, influenciado pela presença árabe na península ibérica, contribuiu para o sucesso das expedições marítimas portuguesas no início da Idade Moderna.

4.5 A chegada ao Brasil.

Os portugueses, liderados por Pedro Álvares Cabral, chegaram ao Brasil em 22 de abril de 1500, inicialmente aportando na região que hoje é Porto Seguro, Bahia. Entretanto, a noção de "descobrimento" é criticada devido ao europocentrismo, que desconsidera a presença e as culturas dos povos originários. A carta de Pero Vaz de Caminha, documento histórico relevante, revela as primeiras impressões dos portugueses, destacando a preocupação com metais preciosos, a qualidade da terra e uma visão eurocêntrica sobre os povos indígenas, apontando para a intenção de cristianização e o subsequente impacto negativo nas comunidades locais.

4.6 O Brasil antes de Cabral.

Antes da chegada de Cabral, o Brasil já era habitado por diversos povos indígenas, mas a história comumente começou a ser contada a partir da chegada dos portugueses em 1500. Os povos originários, organizados em tribos diversas, mantinham uma cultura rica, transmitida oralmente e preservada através da arqueologia. A ocupação das Américas se deu por grupos nômades que atravessaram o Estreito de Bering, com evidências arqueológicas no Brasil datando de 11.500 a 12.000 anos a.C. A diversidade étnica e cultural dos povos indígenas é destacada, contrastando com a generalização do termo "índio" usado pelos europeus.

A chegada dos portugueses provocou mudanças drásticas na vida dos povos indígenas, incluindo a introdução de doenças letais, conflitos armados e o início do processo de aculturação. A imposição da cultura europeia, com guerras incentivadas pelos portugueses para obter escravos indígenas, resultou em impactos negativos significativos para as populações nativas. Além disso, a ação missionária dos Jesuítas buscava a cristianização e a assimilação cultural, desencadeando processos de conversão e aculturação que afetaram profundamente as tradições dos povos indígenas.

Conclusão

A era do mercantilismo e das grandes navegações não apenas delineou as bases da economia e política modernas, mas também estabeleceu as fundações para a interconexão global que caracteriza o mundo contemporâneo. O mercantilismo, com seu foco na acumulação de riquezas e no protecionismo estatal, moldou as relações comerciais e influenciou as políticas coloniais. Por outro lado, as grandes navegações europeias abriram caminho para um mundo interligado, trazendo à tona o pioneirismo de nações como Portugal e Espanha. A busca por especiarias, metais preciosos e novas rotas comerciais não só redefiniu as dinâmicas econômicas, mas também desencadeou intercâmbios culturais que moldaram a diversidade global. Ao considerar esse período, reconhecemos a complexidade das motivações e impactos, lançando luz sobre as raízes de um mundo interconectado e as múltiplas facetas da nossa história compartilhada.

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