Metodologia do Ensino de História - 8 Disciplina e eventualidade: historiadores, conhecimento e ensino do passado

 

Introdução

A formação de historiadores no Brasil enfrenta desafios significativos, evidenciados na base educacional das universidades. A trajetória histórica desse ensino, desde sua institucionalização até os dias atuais, reflete uma evolução marcada por transformações sociais e políticas. Contudo, persistem problemas como a mecanização da aprendizagem, a influência de abordagens eurocêntricas e a resistência à promoção de uma visão crítica. Este texto explora esses desafios, destacando a importância de uma abordagem mais dinâmica e contextualizada na formação de historiadores.

1 Os problemas da formação de historiadores no Brasil

Os desafios na formação de historiadores no Brasil estão presentes nas universidades, onde a base educacional para os futuros professores de história é construída. A história como disciplina no ensino superior foi institucionalizada na Europa e nos Estados Unidos no século XIX, buscando promover a promoção humana, afirmar a identidade nacional e contribuir para o progresso científico e econômico. No Brasil, a primeira universidade foi criada durante o Estado Novo, visando desenvolver uma elite intelectual e formar professores para os ensinos secundários e superior.

Ao longo do tempo, a educação brasileira passou por diversas transformações, refletindo mudanças sociais e políticas. No entanto, o ensino de história no país, por anos, evidenciou a mecanização da aprendizagem, com ênfase na memorização de datas, nomes e fatos eurocêntricos. Apesar das conquistas, como a inclusão da história da África e dos indígenas, a persistência de abordagens problemáticas, como a historiografia positivista, ainda afeta a formação de historiadores.

A formação do historiador deve ir além do conhecimento de conteúdos, envolvendo a prática da criticidade e o entendimento da história em diferentes contextos. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) busca transformar a história em uma ferramenta para o discernimento sobre as experiências humanas, incentivando uma abordagem contextualizada e crítica dos fatos. Apesar dos avanços, desafios persistem na seleção de conteúdos e na promoção da reflexão crítica por parte dos estudantes, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais dinâmica na formação de historiadores.

2 Conflitos didáticos na construção do conhecimento histórico

Na abordagem dos conflitos didáticos na construção do conhecimento histórico, é essencial compreender o processo de construção do conhecimento, conforme teorias como as de Piaget. O conhecimento é resultante de uma construção individual, mediada pelo professor como facilitador entre o aprendente e o objeto cognoscente. A didática desempenha um papel crucial ao organizar estratégias que aproximam o estudante do objeto do conhecimento, sendo necessário um comprometimento do professor na adaptação de temáticas aos diferentes níveis cognitivos dos alunos.

Diversas dificuldades e conflitos didáticos surgem no ensino de história. A complexidade da análise e aprofundamento teórico abstrato, a impossibilidade de reprodução prática dos fenômenos históricos e a falta de unidade na definição da história como ciência social são alguns desafios. Estratégias pedagógicas inovadoras, formação continuada, estudo aprofundado do professor e uso de tecnologias digitais são sugeridos para minimizar esses conflitos e promover uma abordagem crítica na construção do conhecimento em história.

A superação desses conflitos requer um professor comprometido e competente, capaz de formar estudantes pesquisadores e críticos, cientes de que a história é uma ciência em constante construção, buscando contribuir para uma sociedade mais justa. O uso de tecnologias digitais, como a realidade virtual, é destacado como uma ferramenta que aproxima os estudantes do objeto cognoscente.

3 A história a partir do olhar sobre o passado

Nas últimas duas décadas, a disciplina de história evoluiu de simples geração de memórias coletivas para uma abordagem mais científica, especialmente após o Iluminismo. Contudo, o ceticismo moderno em relação à capacidade de gerar conhecimento novo levou a uma queda no potencial mítico do épico moderno, gerando problemáticas na compreensão dos sujeitos do presente e do passado em seu contexto social. A nova abordagem historiográfica, desestabilizando modelos antigos, levou os historiadores a desenvolverem uma visão mais crítica, contextualizando eventos com aspectos sociais, políticos, culturais e econômicos.

A disciplina de história, seguindo as novas abordagens, passou a estudar eventos de maneira mais profunda e complexa, permitindo uma análise mais crítica e argumentativa, estabelecendo relações e refletindo sobre os motivos que constituíram esses processos. O olhar do historiador tornou-se sistêmico, considerando o evento em seu contexto e observando fatores anteriores e posteriores, bem como os aspectos sociais envolvidos. A crítica pós-moderna destaca a história como uma disciplina que relata grandes retóricas de origem social, possibilitando estudos mais profundos e complexos.

O olhar do historiador, influenciado por sua temporalidade, constrói e reconstrói representações das diferentes temporalidades e eventos da história. Cada evento é interpretado e reinterpretado ao longo do tempo, condicionado pela dinâmica da temporalidade do olhar. O professor historiador desempenha um papel crucial ao promover a prática do olhar histórico, analisando eventos em sua amplitude e contextualização, considerando fatores sociais, políticos, econômicos e culturais. A história, como ciência, busca fornecer subsídios para que os alunos compreendam os eventos do passado com senso crítico sobre si, sobre o passado e sobre o presente.

Conclusão

A formação de historiadores demanda uma reflexão contínua sobre as práticas educacionais, superando desafios históricos e adaptando-se às demandas contemporâneas. O compromisso em ir além da mera transmissão de conteúdo, buscando promover a criticidade e o entendimento contextualizado da história, é crucial. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representa um avanço, mas é necessário um esforço constante para integrar práticas inovadoras na seleção de conteúdos. A superação dos conflitos didáticos e a construção de um conhecimento histórico sólido exigem um professor engajado, capacitado e aberto a metodologias ativas. A evolução da disciplina de história, guiada por olhares críticos sobre o passado, reforça a importância da abordagem contextualizada e sistêmica. O papel do professor historiador, como mediador na construção do olhar histórico dos alunos, torna-se crucial na formação de cidadãos críticos, conscientes e capazes de compreender a complexidade dos eventos ao longo do tempo.

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