Introdução.
No Brasil, na última década do século XIX, ocorreram profundas transformações sociais, econômicas e políticas, marcando o início de mudanças significativas. A inserção crescente da mão de obra assalariada, o aumento da urbanização e industrialização nos centros econômicos, juntamente com novos grupos sociais buscando influência política, foram características desse período. O Golpe Militar de 15 de novembro de 1889, que estabeleceu a República, trouxe novos grupos políticos dominantes, incluindo grandes proprietários de café de São Paulo, republicanos do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e a maioria dos oficiais do Exército e setores da Marinha. No entanto, essa mudança não resultou em pacificação política; ao contrário, desencadeou uma intensa instabilidade política e econômica, culminando em uma crise que só foi resolvida alguns anos depois. O capítulo aborda como essas mudanças afetaram o país e explora os fatores que contribuíram para a instabilidade durante os governos dos Marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
Contexto político-econômico nos primeiros anos da República brasileira.
A Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 marcou uma transição histórica no Brasil, iniciando um período de intensas transformações socioeconômicas e políticas. O contexto incluiu aumento populacional, urbanização, industrialização e a transição do trabalho escravo para o livre, especialmente na região Centro-Sul. A imigração em massa, principalmente de italianos, impactou a estrutura social e as relações de trabalho. A industrialização, inicialmente tímida, teve destaque nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, impulsionada pela produção cafeeira e imigração. Apesar do crescimento industrial, o Brasil permanecia agrícola, centrado na economia cafeeira, com São Paulo como polo produtivo predominante. A diversificação econômica ocorreu em diferentes regiões, como a criação de bovinos no Rio Grande do Sul e a produção de borracha na Amazônia.
Crise econômica e disputas políticas advindas da Proclamação da República.
A Proclamação da República em 1889 desencadeou uma profunda crise na política econômica brasileira, resultante das transformações estruturais causadas pela disseminação do trabalho assalariado e pela redefinição da posição do país na economia internacional. A intensificação das relações financeiras com mercados internacionais ocorreu entre 1890 e 1902, marcando a abertura financeira na primeira década do século XX. A crise econômica entre 1888 e 1889 foi impulsionada pela transição da mão de obra escrava para assalariada, gerando escassez de moeda, falta de capital de giro e impactos monetários na agricultura. A ausência de um sistema bancário organizado e medidas de proteção ao setor cafeeiro contribuíram para a crise, resultando em especulação financeira, desvalorização da moeda e falências. No cenário político, a Proclamação da República não uniu as diferentes forças sociais, levando a disputas entre grupos hegemônicos pela implementação de suas visões para a nação, tanto entre representantes políticos quanto militares. Os desafios incluíam estabilizar a economia, promover o desenvolvimento e consolidar o regime republicano.
Governo Deodoro da Fonseca e fissuras entre grupos dominantes da República.
Após a Proclamação da República, o governo provisório liderado pelos Marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto enfrentou instabilidade política e econômica. O período de Deodoro foi marcado por resistências internas e disputas entre grupos dominantes, incluindo agroexportadores de café, militares e defensores do antigo regime monárquico. A tentativa de centralização do poder e implementação de projetos encontrou obstáculos, resultando em impasse e desgaste político.
A Constituição de 1891, promulgada após debates na Assembleia Constituinte, refletiu a predominância dos interesses dos grandes proprietários rurais. A descentralização política fortaleceu a classe agroexportadora, concedendo ampla autonomia a estados e municípios. No entanto, as tentativas de Deodoro de centralizar o poder e implementar suas ideias enfrentaram resistência legislativa, culminando na promulgação da Lei de Responsabilidade.
As ações de Deodoro, como a nomeação de militares em províncias e o fechamento do Congresso, geraram tensões e insatisfação. O descontentamento generalizado, especialmente em regiões como Pará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas e São Paulo, levou à renúncia de Deodoro em novembro de 1891. O processo de transição para a República foi conduzido predominantemente por militares e grandes proprietários, excluindo a participação das camadas populares nos debates e nas decisões.
Política do encilhamento como tentativa de solucionar a crise econômica no País
Diante da intensificação da crise econômica monetária durante o governo de Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa foi nomeado Ministro da Fazenda para buscar soluções. Inspirado no modelo norte-americano, Barbosa introduziu medidas que autorizavam a criação de bancos regionais para emitir moeda, conhecido como "encilhamento". No entanto, essa estratégia resultou em uma especulação financeira descontrolada e uma crise cambial, levando à criação do Banco da República dos Estados Unidos do Brasil para tentar conter a situação. Apesar disso, as medidas foram insuficientes, e fatores como o colapso do banco inglês Barin Brothers e a moratória da dívida argentina contribuíram para a persistência da crise, levando Deodoro à renúncia. Seu governo, marcado por crises políticas e econômicas, deixou como legado o federalismo, base da política dos coronéis que sustentou o regime republicano até 1930.
Governo de Floriano Peixoto e início da pacificação política republicana
Após a renúncia de Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto assumiu a Presidência, alinhando-se a uma visão republicana nacionalista e centralizada, em contraste com os fazendeiros de café de São Paulo. Para garantir estabilidade, Floriano fez uma aliança com o Partido Republicano Paulista (PRP), assegurando o apoio necessário. A parceria resultou na remoção de apoiadores de Deodoro dos cargos-chave e na deposição de governadores alinhados a ele. Embora o governo de Floriano tenha enfrentado resistência, especialmente de setores do Exército, sua gestão não conseguiu resolver eficazmente a crise econômico-monetária, levando à falência de empresas importantes e à desvalorização da moeda brasileira. A instabilidade política persistiu, culminando nas revoltas da Revolta Armada e da Revolta Federalista.
Revolta Federalista e Revolta da Armada: os maiores desafios do governo Floriano
A Revolta Federalista e a Revolta da Armada representaram os principais desafios enfrentados pelo governo de Floriano Peixoto, marcando um período de intensa instabilidade política e militar. A Revolta Federalista, desencadeada no Rio Grande do Sul, refletiu as divergências entre republicanos e liberais sobre a forma de governo, resultando em um conflito sangrento que durou mais de dois anos. Paralelamente, a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, foi motivada pela insatisfação da Marinha com o governo de Floriano, culminando em um confronto entre as forças militares. Ambos os eventos tiveram em comum a conexão de grupos políticos com projetos distintos, representando uma disputa entre a manutenção da República e o retorno ao regime monárquico. A vitória dos republicanos nessas revoltas contribuiu para a consolidação do regime republicano no Brasil.
Conclusão
O final do século XIX no Brasil foi marcado por profundas mudanças, com a Proclamação da República em 1889 desencadeando transformações sociais, econômicas e políticas significativas. Contudo, esse período inicial da República foi caracterizado por intensa instabilidade, especialmente durante os governos dos Marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
A transição do trabalho escravo para assalariado, a urbanização, a industrialização e a imigração em massa moldaram o contexto político-econômico do país. A crise econômica, resultante das mudanças estruturais, provocou uma série de desafios, desde a escassez de moeda até a falta de capital de giro e falências. A política republicana, longe de trazer pacificação, desencadeou disputas entre grupos hegemônicos, criando fissuras que contribuíram para a instabilidade.
Os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto enfrentaram resistências internas, disputas políticas e econômicas, refletindo as tensões entre diferentes interesses, como agroexportadores de café, militares e defensores do antigo regime monárquico. A Constituição de 1891, embora tenha refletido os interesses dos grandes proprietários rurais, não conseguiu impedir as contínuas lutas pelo poder e a busca por estabilidade.
O "encilhamento", uma estratégia econômica introduzida por Rui Barbosa, buscou solucionar a crise, mas resultou em especulação financeira descontrolada. O governo de Deodoro, marcado por crises, deixou um legado de federalismo, que sustentou o regime republicano até 1930.
Floriano Peixoto, ao assumir a presidência, buscou consolidar a estabilidade política, mas enfrentou resistências, especialmente dos fazendeiros de café de São Paulo. Suas alianças não impediram a crise econômica, contribuindo para a falência de empresas importantes e a desvalorização da moeda.
As revoltas, como a Revolta Federalista e a Revolta da Armada, representaram desafios significativos, refletindo as divergências políticas e a disputa entre a manutenção da República e o retorno ao regime monárquico. A vitória dos republicanos nessas revoltas contribuiu para a consolidação do regime republicano, mas a instabilidade persistiu, marcando os primeiros anos da República brasileira. Esse período turbulento deixou um legado de desafios superados e uma nação em construção, buscando encontrar seu caminho rumo a uma estabilidade política e econômica duradoura.
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