História do Brasil República - 2 Os governos de Prudente de Morais e Campos Sales

 

Introdução

A Proclamação da República em 1889 marcou o início de um período político instável no Brasil, com diferentes grupos disputando o poder. Militares, cafeicultores de São Paulo, comerciantes e simpatizantes do regime monárquico entraram em conflito pela liderança política. A eleição de Prudente de Morais marcou a ascensão dos cafeicultores paulistas, afastando a ameaça monarquista e consolidando a República. Este capítulo explora o governo de Prudente de Morais, destacando os desafios enfrentados, como a Revolta de Canudos e as crises diplomáticas com Inglaterra e França. Além disso, são abordadas as características do governo Campos Sales, com ênfase no coronelismo e na política do café com leite.

A eleição de Prudente de Morais e o primeiro governo civil da República

O governo de Prudente de Morais, primeiro presidente civil da República, foi marcado por mudanças na dinâmica política brasileira. O enfraquecimento de Floriano Peixoto, aliado aos cafeicultores paulistas, permitiu a ascensão de Prudente, marcando o fim da presença militar na Presidência. Apesar da instabilidade política, com oposições internas e a Revolta Federalista, Prudente conseguiu lidar com desafios como a crise econômica do café, que afetou a exportação do produto. Além disso, o governo enfrentou questões internacionais, como a Revolta de Canudos, a crise diplomática com a Inglaterra e a França sobre a Ilha da Trindade e o Amapá.

A Revolta de Canudos e a crise diplomática com a Inglaterra e a França

O governo de Prudente de Morais enfrentou desafios significativos, destacando-se a Revolta de Canudos e a crise diplomática com a Inglaterra e a França. A Revolta de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro, surgiu como uma comunidade ascética e coletivista no sertão nordestino, preocupando autoridades políticas e religiosas devido à sua autonomia. Os confrontos armados resultaram na destruição do Arraial de Canudos em 1897, com impactos políticos que fortaleceram Prudente de Morais, consolidando sua posição e encerrando um problema iniciado no governo anterior. Além disso, a revolta simbolizou a disputa entre ideais monarquistas e republicanos, bem como entre secularização e religiosidade na sociedade brasileira. A crise diplomática envolveu disputas territoriais com a Inglaterra e a França, demonstrando a complexidade política e militar enfrentada pelo governo nesse período.

A instabilidade política internacional: a questão da Ilha da Trindade e do Amapá

Durante o governo de Prudente de Morais, o Brasil enfrentou desafios significativos no cenário internacional, notadamente nas questões da Ilha da Trindade e do Amapá. As ameaças expansionistas da Inglaterra e da França em relação a esses territórios exigiram respostas diplomáticas e políticas. No caso da Ilha da Trindade, a Inglaterra ocupou a região em 1895, alegando seu abandono, desencadeando uma disputa que foi mediada por Portugal, culminando com o reconhecimento da propriedade brasileira. Já a disputa com a França sobre o Amapá remontou ao século XVII e ressurgiu em 1893 devido à descoberta de ouro na região, resultando em confrontos militares e, eventualmente, em uma sentença favorável ao Brasil arbitrada pela Suíça em 1900. A resolução dessas questões contribuiu para a estabilização do governo de Prudente de Morais, pavimentando o caminho para a construção do arranjo político nacional que sustentou a República até 1930.

A arquitetura política de Campos Sales e a consolidação da República brasileira

Sob o governo de Campos Sales, iniciado em 1898, a República brasileira consolidou-se sob a influência política das elites cafeicultoras de São Paulo. Sales implementou uma arquitetura política que buscava harmonizar os interesses do Governo Federal com as oligarquias regionais e municipais, estabilizando o país. Essa estrutura, fundamentada na Constituição de 1891, visava minimizar disputas políticas estaduais, favorecendo os grupos dominantes, e encerrar hostilidades entre Executivo e Legislativo.

Campos Sales alinhou os interesses do Governo Federal com as oligarquias regionais, políticos municipais e líderes republicanos, estabelecendo um acordo nacional que trocava vantagens políticas e econômicas. A política dos governadores desempenhou um papel crucial, garantindo o apoio necessário ao governo federal em troca de verbas e prestígio nos estados. As oligarquias regionais, organizadas por meio dos partidos republicanos, conectaram a política nacional com a local, enquanto os coronéis, detentores do poder político municipal, exerciam controle sobre o eleitorado e asseguravam votos em troca de favores e concessões. Essa arquitetura política, baseada na reciprocidade entre poder público e líderes locais, caracterizou o período até 1930.

Instrumentos de sustentação do arranjo político de Campos Sales 

Campos Sales consolidou seu arranjo político por meio de instrumentos-chave que conectaram diferentes interesses e legitimaram a engrenagem política. A Comissão de Verificação de Poderes teve seu regulamento alterado para garantir maior controle presidencial sobre os deputados diplomados, assegurando a nomeação de aliados alinhados aos interesses do Governo Federal. Sem uma justiça eleitoral, o controle do processo eleitoral foi entregue aos grupos políticos regionais, resultando em uma maquinaria política baseada em fraudes eleitorais que beneficiavam as oligarquias e os coronéis.

Além disso, o acordo político conhecido como "política do café com leite" entre São Paulo e Minas Gerais permitiu a alternância na Presidência, consolidando o controle dessas oligarquias na política nacional até 1930. A quebra desse acordo levou à Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas. Inicialmente, esse arranjo proporcionou estabilidade, afastando ameaças monarquistas e militares, fortalecendo a diplomacia brasileira. Posteriormente, tornou-se um fator crucial na estabilização do regime republicano, conciliando interesses locais, estaduais e nacionais através de relações de reciprocidade e controle eleitoral, perdurando até a mencionada revolução.

Conclusão

O período inicial da República brasileira foi caracterizado por uma sucessão de desafios políticos e econômicos, marcando um cenário de instabilidade que se estendeu ao longo das primeiras décadas do século XX. A eleição de Prudente de Morais representou um marco na transição do governo militar para o civil, mas também trouxe consigo uma série de desafios, como a Revolta de Canudos e as tensões diplomáticas com Inglaterra e França.

A Revolta de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro, simbolizou não apenas um conflito armado no sertão nordestino, mas também uma profunda disputa ideológica entre ideais monarquistas e republicanos, entre secularização e religiosidade. A resolução desse conflito fortaleceu Prudente de Morais, consolidando sua posição no cenário político.

As crises diplomáticas com potências estrangeiras, especialmente a Inglaterra e a França, evidenciaram a complexidade política e militar enfrentada pelo governo. Questões territoriais, como a Ilha da Trindade e o Amapá, exigiram respostas diplomáticas e políticas hábeis, destacando a importância da atuação internacional para a estabilidade interna.

A entrada do governo de Campos Sales representou um momento crucial na consolidação da República, com a implementação de uma arquitetura política baseada na conciliação de interesses regionais e nacionais. A "política do café com leite" entre São Paulo e Minas Gerais, aliada à política dos governadores e ao controle eleitoral, proporcionou uma estabilidade aparente, afastando ameaças monarquistas e militares. Contudo, essa estabilidade era sustentada por práticas questionáveis, como fraudes eleitorais, que acabaram minando as bases do arranjo político.

A consolidação da República brasileira, portanto, foi caracterizada por um equilíbrio frágil, baseado em acordos políticos e práticas que, embora tenham proporcionado estabilidade temporária, não foram capazes de atender às demandas e expectativas de uma sociedade em constante transformação. O colapso desse arranjo político, evidenciado pela Revolução de 1930, marcou o fim de uma era e o início de um novo capítulo na história política do Brasil.

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