Introdução
O período que abrange o início da República no Brasil é marcado por uma intricada interação entre o espaço rural e urbano, evidenciando uma teia complexa de desafios políticos, sociais e econômicos. A Revolução Federalista, a Guerra de Canudos, o cangaço, e a Guerra do Contestado revelam as tensões no interior do país, destacando resistências e lutas nas regiões rurais. Ao mesmo tempo, a dinâmica urbana emerge como um ponto focal de transformações, com a gradual transição para a República, o crescimento demográfico nas cidades portuárias e a chegada de imigrantes europeus.
O espaço rural brasileiro e a República
No início da República, o espaço rural brasileiro desempenhou um papel crucial, marcado por conflitos políticos e sociais. A Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, entre 1893 e 1895, envolveu grupos federalistas e legalistas, destacando-se a liderança de Júlio de Castilhos contra o Partido Federalista. A Guerra de Canudos (1893-1897), no Nordeste, evidenciou as tensões entre a população miserável liderada por Antônio Conselheiro e o Estado republicano, resultando na dizimação da comunidade em 1897. A política dos governadores na República Civil Oligárquica (1894-1930) fortaleceu os coronéis, figuras influentes no interior, enquanto o cangaço, liderado por Lampião, representava a resistência ao autoritarismo dessas elites. A Guerra do Contestado (1912-1916) refletiu a disputa territorial entre Paraná e Santa Catarina, associada à construção de ferrovias por empresas estrangeiras, como a Brazil Railway Company. Esses eventos evidenciam a complexidade das relações entre campo e cidade, destacando a resistência e lutas no meio rural.
A dinâmica urbana
A transição para a República no Brasil foi gradual, marcada por resistências no interior, como nas revoltas de Canudos e Contestado. Embora a elite cafeeira tenha liderado o golpe, o ideal republicano se consolidou no incipiente espaço urbano. O processo de urbanização, impulsionado por valores burgueses, intensificou-se nas primeiras décadas do século XX, mesmo com a predominância da estrutura agrária. A chegada de imigrantes europeus estimulou movimentos sindicais em São Paulo, questionando a concepção de república, enquanto as transformações urbanas refletiam uma mudança simbólica e política.
O crescimento demográfico nas cidades portuárias e a chegada de imigrantes também contribuíram para o desenvolvimento urbano. Em Manaus, impulsionada pelo ciclo da borracha, e em São Paulo, centro econômico do país, surgiram mudanças significativas. No entanto, a urbanização trouxe desafios, como a favelização e a exploração de trabalhadores em bairros operários. O futebol, apesar de críticas, tornou-se um símbolo cultural nesse contexto. A urbanidade brasileira, embora avançasse lentamente, teve um salto na década de 1920, consolidando-se durante o governo Vargas, enquanto o interior experimentava transformações impulsionadas pela necessidade de proteção das fronteiras e federalização de territórios. O êxodo rural também se tornou uma realidade significativa nesse período.
O nacional-desenvolvimentismo de Vargas (1930-1945)
O nacional-desenvolvimentismo de Vargas durante os anos 1930-1945 foi uma resposta à Crise de 1929, abalando a política e gerando instabilidade entre Minas Gerais e São Paulo. A Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas, surgiu em oposição à República Civil Oligárquica, resultando na ascensão de Vargas ao poder após as eleições controversas. Seu governo centralizado, conhecido como Governo Provisório, iniciou a Era Vargas, marcada por medidas intervencionistas, como o controle das unidades federativas e o desenvolvimentismo econômico com a criação de indústrias de base, destacando-se a Companhia Siderúrgica Nacional.
No aspecto trabalhista, Vargas implementou políticas que o renderam a alcunha de "pai dos pobres", criando o Ministério do Trabalho e estabelecendo controle sobre os sindicatos. O crescimento do número de trabalhadores sindicalizados refletiu no aumento do contingente urbano industrial. Contudo, a política trabalhista também incorporou valores morais, reprimindo atividades culturais consideradas desviantes, como o samba que ironizava o trabalho. Com a instauração do Estado Novo em 1937, inspirado em regimes autoritários europeus, o Brasil enfrentou um período mais controlado por Vargas, com fechamento do Congresso e perseguição a opositores.
Durante o Estado Novo, Vargas fortaleceu alianças com a burguesia industrial, promovendo a industrialização do país. A década de 1930 testemunhou um intenso crescimento populacional e urbano, impulsionado pela urbanização, chegada de imigrantes e mudanças na economia, enquanto a migração interna transformava regiões do país. O impacto da urbanização também se refletiu no ensino, com redução do analfabetismo e aumento significativo no número de estudantes.
Conclusão
A interação entre o espaço rural e urbano durante o período inicial da República no Brasil constituiu um cenário dinâmico, moldado por conflitos, transformações e desafios multifacetados. Os conflitos rurais, como a Revolução Federalista e a Guerra do Contestado, evidenciam as disputas territoriais e a resistência contra as estruturas políticas vigentes. Enquanto isso, a dinâmica urbana revela a ascensão de novos valores, o processo de industrialização e os desafios sociais resultantes da urbanização acelerada.
A chegada da Era Vargas, com seu nacional-desenvolvimentismo, introduziu mudanças significativas na política, na economia e na sociedade brasileira. As políticas trabalhistas e o controle sobre os sindicatos representaram uma tentativa de equacionar as desigualdades sociais, enquanto o Estado Novo trouxe consigo uma nova fase de autoritarismo, fortalecendo alianças e impulsionando a industrialização. O impacto dessas transformações se fez sentir tanto no campo quanto na cidade, desenhando os contornos de um Brasil em constante metamorfose, moldando seu destino ao longo das décadas subsequentes.