3. A formação do sistema colonial

 

Introdução.

Neste capítulo, abordaremos o "sistema colonial" de Portugal e suas possessões na América. A partir de 1530, Portugal começou a investir na ocupação desse território, visando também a proteção contra invasões de outras nações. Vamos explorar as interpretações do colonialismo e sua conexão com as práticas mercantilistas europeias, além de examinar as ações da coroa portuguesa após o "descobrimento" da América e a presença de franceses e holandeses em território português na América com objetivos de colonização.

1. A colonização e o mercantilismo.

O colonialismo brasileiro e suas relações com o mercantilismo têm sido tema de debate na historiografia brasileira e portuguesa. Antigamente, prevaleciam interpretações marxistas que viam o Brasil como uma colônia de exploração totalmente dependente do mercado europeu. No entanto, essa visão foi criticada nas décadas de 1970 e 1990, com historiadores como Ciro Flamarion Cardoso, Jacob Gorender e Fernando Novais, que destacaram a existência de um mercado interno na América portuguesa com dinâmicas próprias.

Alguns historiadores argumentam que a lógica colonial e mercantilista não deve ser negada, mas relativizada. Eles afirmam que o colonialismo contribuiu para o desenvolvimento industrial europeu ao transferir riquezas das colônias para as metrópoles. Além disso, a escravidão desempenhou um papel fundamental nas práticas coloniais, enriquecendo elites na metrópole e nas colônias. A propriedade escrava era disseminada na sociedade, criando uma sociedade escravista.

Portanto, o colonialismo brasileiro não pode ser simplificado como uma colônia de exploração puramente dependente do mercado europeu, mas sim como parte de um sistema colonial e mercantil mais complexo, onde o mercado interno e a escravidão desempenharam papéis significativos.

2. A ocupação da América Portuguesa.

A ocupação inicial da América Portuguesa ocorreu gradualmente, com os portugueses explorando o território desconhecido após sua chegada em 1500. O Tratado de Tordesilhas definiu as posses portuguesas, mas havia incertezas sobre os limites e jurisdição.

A coroa portuguesa inicialmente não tinha grande interesse no território americano, priorizando o comércio no Oriente. As primeiras décadas após a "descoberta" foram marcadas pela exploração do pau-brasil, que era trocado com os nativos em troca de sua força de trabalho. Feitorias foram construídas para armazenar a madeira, e o pau-brasil tornou-se um monopólio da coroa.

A colonização sistemática começou com Martim Afonso de Souza, que fundou São Vicente em 1532, marcando o início da colonização portuguesa no Brasil. Isso envolveu a distribuição de sesmarias, sementes e ferramentas entre os colonos.

Com a colonização, a cultura da cana-de-açúcar foi introduzida devido às condições climáticas favoráveis e à demanda europeia. Portugal já cultivava a cana em suas ilhas atlânticas. Essa transformação econômica foi um marco na história colonial do Brasil.

3. As invasões do território português na América.

Após a chegada dos portugueses à América em 1500, outros navegadores de diversas nacionalidades, como espanhóis, franceses e holandeses, exploraram o litoral português na América, praticando o comércio com nativos, a extração do pau-brasil e até mesmo a pirataria, com destaque para os ingleses.

Os ingleses realizaram pilhagens e atos de pirataria nas cidades de Recife e Santos, causando problemas econômicos para Portugal. Isso levou à formação de uma aliança com a Inglaterra, posteriormente formalizada pelo Tratado de Methuen.

Durante o período da União Ibérica (1580-1640), em que Espanha e Portugal tiveram o mesmo rei, as invasões ao território português na América se intensificaram. No entanto, a Espanha não cumpriu a promessa de tratar Portugal como um reino unido, o que prejudicou as relações comerciais.

Franceses e holandeses invadiram o território português na América durante a União Ibérica. Os franceses estabeleceram a França Antártica no Rio de Janeiro em 1555, enquanto os holandeses tentaram conquistar a Bahia em 1624 e Pernambuco em 1630. A resistência luso-brasileira, aliada à conjuntura europeia, levou à derrota dos holandeses.

O governo de Maurício de Nassau em Pernambuco (1637-1644) promoveu melhorias econômicas e sociais, mas sua exoneração e medidas econômicas desfavoráveis aos proprietários locais desencadearam a Insurreição Pernambucana (1645-1654), que resultou na expulsão dos holandeses do Brasil.

O período da presença holandesa no Brasil pode ser dividido em três fases: a conquista inicial, o governo de Nassau e a guerra de restauração que levou à saída dos holandeses. A resistência cresceu devido ao declínio dos preços do açúcar e ao endividamento dos plantadores, culminando na Restauração Pernambucana.

Conclusão.

Em resumo, este capítulo abordou o sistema colonial de Portugal na América, destacando a complexa relação entre o colonialismo e o mercantilismo. Discutimos como historiadores revisaram interpretações antigas, reconhecendo a existência de dinâmicas próprias no mercado interno da América portuguesa e a importância da escravidão na sociedade colonial.

Além disso, exploramos a ocupação gradual da América Portuguesa, desde as expedições iniciais até o estabelecimento da cultura da cana-de-açúcar como atividade econômica predominante.

Por fim, analisamos as invasões ao território português na América por parte de outras nações, como franceses e holandeses, durante o período da União Ibérica. Essas invasões resultaram em conflitos e na posterior expulsão das forças invasoras. O capítulo demonstra como o sistema colonial português na América estava sujeito a desafios constantes, tanto internos quanto externos, que moldaram sua evolução ao longo do tempo.

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